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domingo, 11 de dezembro de 2016

O marco zero da vontade de Deus

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por K. Scott Oliphint

Era sempre inverno, nunca Natal.
Em O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa de C.W. Lewis, a terra de Nárnia estava sob o cruel domínio da Feiticeira Branca. Mas, Aslan estava a caminho. Quando a feiticeira e o leão finalmente se encontraram, ela diz a Aslan que uma das crianças, Edmundo, revelara-se um traidor. A lei de Nárnia dizia que todo traidor pertence à Feiticeira Branca e deve ser punido com morte.
Então, Aslan propõe um acordo e concorda em morrer no lugar de Edmundo. Mas, Aslan então ressuscita. Quando ele retorna, as crianças ficam confusas.
“Mas, o que tudo isso significa?”, perguntou a irmã de Edmundo, Susana.
“Explico”, disse Aslan, “a feiticeira pode conhecer a Magia Profunda, mas não sabe que há outra magia ainda mais profunda. O que ela sabe não vai além da aurora do tempo. Mas, se tivesse sido capaz de ver um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás”.

Por trás da cortina da Eternidade

Neste conto infantil, Lewis magistralmente expõe o cerne da nossa redenção. E ele nos ajuda a enxergar o amor do Deus triúno por nós “no silêncio que reinava antes da aurora do tempo”. Ali, na eternidade passada, Pai, Filho e Espírito conspiraram amar um povo para si. Eles determinaram criar-nos e – sabendo que arruinaríamos a sua boa criação – também decidiram fixar seu amoroso e eterno olhar em nós, como filhos escolhidos, valiosos e particulares.
É uma pena que a doutrina bíblico do “decreto de Deus” (como os teólogos a chamam) e sua glória predestinadora tenha azedado para tantos cristãos. Quando algo tão biblicamente rico e espiritualmente nutritivo torna-se tão desagradável ao paladar que nos recusamos a consumi-lo, precisamos reconsiderar nossa dieta.

No silêncio antes do tempo

No primeiro capítulo de Efésios, o apóstolo Paulo fica tão perplexo com a majestade de nossa redenção que mal consegue parar para colocar pontuação em suas declarações. Assim, sua longa e única sentença vai do verso 3 ao verso 11. Mas o que permeia cada poro dessa longa frase é seu começo:
Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele. os predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade (Efésios 1.3-5).
O servo de Deus é inspirado pelo Espírito de Deus a nos mostrar o que Deus fazia antes do mundo começar. Nesses versos, temos o que somente Deus pode nos dar: um vislumbre do eterno momento de seu glorioso plano. O Deus triúno preparou cada detalhe do projeto de seu reino eterno. Não somente ele planejou tudo, mas ele mesmo operou todo aquele projeto de acordo com o conselho de sua soberana vontade (Efésios 1.11).
Sem o sólido alimento dessa verdade bíblica, nossas almas esmorecerão. A não ser que escutemos a eternidade, desenvolveremos catarata espiritual. Para ver claramente, precisamos primeiro ouvir claramente. Devemos ocupar nossas mentes com o transcendente para que o imanente tenha o seu lugar adequado em nossas vidas.

Não a nós, Senhor

Paulo começa bendizendo Deus Pai pelo que ele cumpriu em seu Filho. Mas, ele não nos permite que o foco seja esse cumprimento em nós. Seu interesse imediato não são os benefícios que recebemos de Cristo, por mais importantes que sejam. Sua mente imediatamente vai do louvor a Deus à eterna escolha de Deus. O interesse de Paulo é nos ajudar a ver que o que temos do Pai, por meio do Filho, é resultado da determinação do Pai “antes da fundação do mundo” de nos amar de tal forma que nos salvaria de nossos pecados.
Nós acabamos de ter outro ano olímpico. Atletas americanos ganharam um número recorde de medalhas. Esses atletas dedicaram todas as suas vidas a suas tarefas atléticas. É natural, então, que eles tenham orgulho de suas conquistas.
Porém, o cristão jamais pode pensar que a salvação que temos em Cristo é algo semelhante aos rigores do treinamento esportivo. Não somente não conquistamos nada do que temos em Cristo, como o que temos é resultado das decisões tomadas pelo Deus triúno antes que nós, ou alguma outra coisa na criação, sequer existisse.

Quem fica com a glória?

Muitos cristãos reconhecem que, fora de Cristo, não há salvação. Porém, muito poucos reconhecem que nossa salvação teve seu princípio antes do tempo começar. Foi ali que o Deus triúno determinou amar você pela eternidade. Foi ali que o Filho não considerou o fato de ser igual a Deus algo a que devesse se apegar, mas esvaziou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte em uma cruz (Fp 2.6-8).
Até que vejamos essa determinação divina como o “marco zero” eterno da nossa salvação, nossa adoração a Deus está simplesmente incompleta. Se Deus não iniciou unilateralmente, desde a eternidade, seu soberano plano de salvação por mim, então minha salvação deve, mesmo que de um jeito bem pequeno, ficar “por minha conta”. Se contribuímos em algo para nossa salvação, nossos cânticos de louvor à glória de Deus sempre estarão tocando nossa própria melodia em tom menor.
Paulo não nos permite ter parte na eternidade passada; não podemos olhar, mas não tocar. Somente desta forma a luz brilhará no lugar certo – no palco, não na audiência. Somente dessa forma é possível dizer “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” sem sussurrar baixinho,“e eu também”.

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