Pesquisa no blog

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Sobre os ombros de gigantes


Foi Isaac Newton que escreveu a famosa frase, “Se vi mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes.” Ao dizer isso, ele fala a respeito da sua dependência das grandes mentes que vieram antes dele. Quais fossem os avanços que ele foi capaz de fazer, ele reconhecia que baseava seu trabalho no daqueles que vieram antes dele, dando a ele melhores vistas dos caminhos que ele deveria subir.
Estamos bem familiarizados com esse princípio na vida cristã. E se não estamos, deveríamos. Eu posso alcançar grande progresso em minha caminhada cristã, no meu dia-a-dia, lendo as percepções daqueles que vieram antes de mim, e que há muito tempo atingiram a gloriosa linha de chegada depois de uma vida de fidelidade.
Hoje, eu queria reunir uma série de citações com as quais me deparei recentemente. Descobri algumas enquanto aproveitava algumas leituras de lazer nessas festas de fim de ano. Outras eu encontrei enquanto trabalhava em um projeto de pesquisa para o seminário. E outras eu me deparei no meu Facebook e Twitter, onde alguns amigos compartilharam comigo. É através da leitura de gigantes espirituais como esses – estando sobre seus ombros – que eu sou ajudado na minha adoração a Cristo. Assim, eu quero compartilhar algumas delas com vocês. Leia-as com calma. Absorva. Espero que seja encorajador.
Thomas Brooks: “Não é o que lê mais, mas o que medita mais, que se revelará o mais seleto, doce, sábio e forte Cristão.”
John Owen: “A glória e a excelência que habitam na comunhão espiritual da alma com Deus, pela graça do Espirito Santo, na relação celeste entre Deus e seus santos em sua adoração faz com que toda a beleza do mundo se esvaia e transforme-se em nada, e traz toda a pompa externa de uma adoração cerimoniosa em desprezo.”
Thomas Manton: “O Favor de Deus é a vida de nossas almas, e Seu descontentamento é nossa morte… O mundo inteiro sem isso não pode fazer um homem feliz. De que adianta se o mundo inteiro sorrir para nós, e Deus fechar a cara e se irar conosco? Todas as velas do mundo não fazem dia; nem todas as estrelas brilhando juntas não conseguem dissipar as trevas da noite e fazer dia, a menos que o sol brilhe; assim, qualquer conforto que tenhamos em uma natureza superior ou inferior, elas não podem fazer dia com um gracioso coração, a menos que a face de Deus brilhe sobre nós; pois Ele pode resplandecer tudo em apenas um instante.”
Wilhelmus à Brakel: “Tal é o nosso Deus, que não apenas é autossuficiente mas que com a sua autossuficiência pode preencher e saturar a alma a uma medida tão transbordante que não necessite de nada mais a não ser Deus como sua porção. A alma assim favorecida é preenchida com essa luz, amor e contentamento, que não deseja nada além disso. ‘Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra’ (Salmo 73.25).”
Jonathan Edwards: “O prazer de ver Deus é tão maravilhoso e forte que toma conta de todo o coração, o preenche completamente, de modo que não haverá espaço para nenhuma tristeza, nenhum quarto em nenhum canto para nada diferente de contentamento. Não há escuridão que possa suportar essa poderosa luz. É impossível que aqueles que veem Deus face a face, que contemplem a sua glória e amor como eles fazem no céu, tenham qualquer tristeza ou dor em seus corações.”
John Owen: “Ó, o contemplar a glória de Cristo! … Nisto eu iria viver; nisto eu iria morrer; nisto eu iria morar com meus pensamentos e afeições… até que tudo abaixo se torne uma coisa morta e deformada, indigna de afeições e abraços afetuosos.”
John Owen: “A alma que pode ser satisfeita sem [contemplar a glória de Cristo], e que não pode ser eternamente satisfeita com isso, não é parte da eficácia de Sua intercessão.”

Richard Sibbes: “Melhor estar em tribulações com Cristo do que em paz sem Ele.”
John Owen: “Nesse gozo e deleite reside a doçura e a satisfação da vida espiritual. Noções especulativas sobre coisas espirituais, quando estão sozinhas, são secas, sem vigor, e estéreis. Nesse deleite nós experimentamos pela experiência que Deus é gracioso, e que o amor de Deus é melhor do que o vinho, ou qualquer outra coisa que possa proporcionar o prazer de um apetite sensual. Esse é o próprio fundamento da ‘alegria que é inexplicável e cheia de glória.’”
Jonathan Edwards: “Então virá o tempo quando Cristo docemente vai chamar sua noiva para entrar com ele no reino de sua glória que ele tem preparado para ela desde a fundação do mundo e irá, por assim dizer, levá-la pela mão, levá-la com ele: e o glorioso noivo e a noiva irão, com todos os seus brilhantes ornamentos, ascender juntos ao céu dos céus;  toda a multidão de gloriosos anjos estarão esperando por eles: e esse Filho e filha de Deus irão, na unida glória e alegria, apresentar-se juntos perante o Pai; quando Cristo irá dizer, ‘Aqui estou, e os filhos que me deste’: e ambos irão, nessa relação e união, juntos, receber a benção do Pai;  e daí em diante irão se alegrar juntos, em consumada, ininterrupta, imutável e eterna a glória, no amor e na presença um do outro, e na fruição conjunta do amor do Pai.”

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

O Apocalipse do Cristianismo Iraquiano


Johannes Gerloff
Aniquilar cristãos e outros “infiéis” é o alvo declarado do extremismo islâmico no Iraque. Uma das mais antigas culturas cristãs do mundo está diante de seu fim.
As imagens são terríveis. Mulheres acorrentadas umas às outras são ofertadas em fila como escravas sexuais. Os homens são obrigados a deitar-se em valas comuns, onde são mortos com tiros na cabeça. Vêem-se muitas cruzes com corpos humanos ensangüentados dependurados. Não apenas soldados, até crianças pequenas são decapitadas; as cabeças cortadas são expostas em estacas – fotografadas pelos assassinos e publicadas orgulhosamente na internet.
Essas imagens terríveis vêm acompanhadas de histórias ainda mais horríveis. É impossível saber se todas elas são verdadeiras ou se cada uma delas se relaciona de fato com as imagens que vêm a público, mas causam o efeito desejado: milhares de cristãos orientais estão em fuga. Em pleno século 21, uma das mais antigas culturas cristãs está diante de seu fim.
A “escritura na parede” era bastante evidente: o que hoje é a mais cruel realidade, já vinha sendo anunciado há anos em pichações nas paredes e nos muros das grandes cidades iraquianas como Bagdad e Mosul. E o ódio anticristão ali grafitado não era sem precedentes. Há uma década e meia, inscrições islâmicas já sujavam as ruas do Egito: “Primeiro o povo do sábado (judeus)! Depois o povo do domingo (cristãos)”!
Há uma década e meia, inscrições islâmicas já sujavam as ruas do Egito: “Primeiro o povo do sábado (judeus)! Depois o povo do domingo (cristãos)”!
De fato, a expulsão em massa da população cristã do Oriente árabe-islâmico é uma continuação coerente das limpezas étnicas planejadas e meticulosamente executadas contra os judeus dos países árabes, o “povo do sábado”. Se em meados do século 20 ainda vivia em torno de um milhão de judeus no mundo árabe, hoje essa região é praticamente “judenrein” (livre de judeus).[1]
Atualmente os centros, instituições e organizações do “povo do domingo” tornaram-se “alvos legítimos” dos extremistas muçulmanos. Eles querem declaradamente “matar todos os infiéis, onde quer que os encontrem”. “Infiéis” do ponto de vista islâmico são todos os de outra fé ou crença, não apenas cristãos, também os yasidis e os muçulmanos das alas opostas.
Da perspectiva cristã, a ameaça crescente não vem apenas dos muçulmanos sunitas como a Irmandade Muçulmana, a Al-Qaeda e suas “filhas”, a Frente al-Nusra ou o “Estado Islâmico” (EI), pois cada vez mais ela também parte de grupos xiitas. Assim, em 2012 o grão-aiatolá Sayid Ahmad Al-Hassani Al-Baghdadi, em uma entrevista para o canal de televisão Al-Baghdadiah, ordenou a ilimitada sujeição e o assassinato de todos os cristãos do Iraque.
Islâmicos radicais agiram sistematicamente no Iraque durante anos, difundindo um clima de ameaças, terror, intimidação. É curioso ver como os grandes do mundo, especialmente os Estados Unidos, se mantiveram calados diante dessa tendência. Os cristãos foram xingados de “politeístas” ou “amigos dos sionistas”. Agora o EI coloca os cristãos da Síria e do Iraque diante da alternativa: converter-se ao islã ou morrer.
Concretamente, no dia 17 de julho de 2014 o EI impôs um ultimato aos cristãos ao norte de Mosul, concedendo três dias para deixarem seu “califado”. O anúncio salientava que o “califa” Abu Bakr Al-Baghdhadi estava sendo muito generoso com esse prazo, pois nada o obrigaria a concedê-lo. Esse ultimato causou uma fuga maciça de cristãos de Mosul ao Curdistão autônomo, que fica próximo. Muitos cristãos idosos ou deficientes, que não viram qualquer possibilidade de fugir, se converteram ao islã.
Chocados, os refugiados contam como foram parados em barreiras nas estradas logo depois que deixaram suas casas e como foram roubados de seus últimos pertences: “Eles tomaram tudo, nossos carros, nosso dinheiro, identidades e passaportes e até as fraldas dos bebês e os medicamentos de uma menina com doença crônica”. Outra menina de seis meses de idade teve seus brincos de bijuteria violentamente arrancados de suas orelhas. “Muitos de nós foram surrados”, contam eles. E os muçulmanos ameaçavam: “Não voltem nunca mais para este país! Esta terra é nossa. Se vocês voltarem, vamos matá-los com a espada”.
“Eles tomaram tudo, nossos carros, nosso dinheiro, identidades e passaportes e até as fraldas dos bebês e os medicamentos de uma menina com doença crônica”.
O patriarca caldeu Louis Sako avalia que mais de 100.000 cristãos estão em fuga. Ele menciona expressamente que 1.500 manuscritos antigos foram queimados pelos fanáticos muçulmanos, coisa bastante incomum no mundo islâmico. Geralmente os muçulmanos têm grande apreço até pelos livros cristãos. Antes da “libertação” pelos americanos, ainda viviam em Mosul 60.000 dos 1,5 milhões de cristãos iraquianos. Em 23 de julho de 2014 o arcebispo sírio-ortodoxo da cidade, Nikodimus Daud, que vive no exílio em Irbil, declarou ao canal russo Russia Today: “Não existem mais cristãos em Mosul!”. Contou ainda que os muçulmanos do EI arrancaram as cruzes das igrejas, “primeiro da minha catedral Mar-Afram”. E então queimaram tudo o que havia na igreja, instalaram alto-falantes, e com suas orações transformaram-na em uma mesquita.
Outras igrejas da Síria e do Iraque foram explodidas pelos combatentes do EI, como também diversas mesquitas que esses muçulmanos fanáticos consideram uma ameaça à fé no Deus único (quando são locais de peregrinação muçulmana). O venerável mosteiro de Mar-Behnam, na região de Al-Chadhir, a sudeste de Mosul, que data do século quatro, foi tomado e seus monges foram todos expulsos.
Pelo visto, o “califa” do EI havia oferecido aos habitantes da recém-conquistada Mosul o pagamento da jizya, um imposto de proteção. Em fevereiro de 2014 os habitantes cristãos da cidade síria de Al-Rakka, situada às margens do Eufrates, haviam firmado um acordo como dhimmis dos conquistadores. Nele, os muçulmanos se comprometem, segundo antigas tradições, a proteger a vida, a propriedade e os locais religiosos dos cristãos. Por isso, esse status “dhimmi” também é chamado de “status dos protegidos”.
Os cristãos, por sua vez, se comprometeram a pagar a jizya, de acordo com suas condições de renda, variando entre 178 e 715 dólares por ano. Além disso, não podem construir novas igrejas nem restaurar as antigas ou danificadas. Cristãos sob a condição de dhimmis estão proibidos de tocar sinos e de expor publicamente seus símbolos religiosos, como cruzes ou textos sagrados. Na presença de muçulmanos, não podem ler em voz alta ou recitar textos religiosos. Os dhimmis devem evitar qualquer postura de oração em público e não podem carregar armas. Além disso, comprometem-se a não impedir que outros membros de sua própria religião se convertam ao islã, estão obrigados a honrar o islã e os muçulmanos e a não ofendê-los da forma que for.
O Estado Islâmico baseia todas essas medidas no Corão (sura 9, verso 29), que leva o título de “O Arrependimento”. Ali está escrito acerca dos cristãos e dos judeus: “Dos adeptos do Livro, combatei os que não crêem em Deus [Alá] nem no último dia e não proíbem o que Deus [Alá] e seu Mensageiro [Maomé] proibiram e não seguem a verdadeira religião – até que paguem, humilhados, o tributo”. O xeque Hussein Bin Mahmud, proeminente autor nos fóruns jihadistas na internet, opina a respeito: “Esse é um claro texto divino. Todo aquele que lê o Corão vê isso”. A humilhação que envolve o status de dhimmié tributada à incredulidade dos próprios cristãos, segundo explica Bin Mahmud: “Como infiéis, eles são indignos e desprezíveis e devem ser tratados como tais”.
Iraquianos fugindo de Mosul.
Segundo o acordo, uma transgressão desse contrato significa passarem a ser tratados como “inimigos”. A alternativa à assinatura do contrato de dhimmi é “a espada”. No começo de agosto, os milicianos do EI em Tel Afar, uma cidade a oeste de Mosul, prenderam aproximadamente 100 cristãos e yasidis; os homens foram mortos e suas mulheres e filhas vendidas como escravas. De forma oficial, os líderes religiosos islâmicos decidem nesses casos: mulheres e moças cristãs são consideradas “propriedade legítima dos muçulmanos”.
Como os cristãos de Mosul não quiseram submeter-se ao acordo como dhimmis, só lhes restou a fuga. Seus bens foram consfiscados. A prova de que as ações do EI foram planejadas sistematicamente e muito bem organizadas pode ser vista na marcação dos imóveis dos cristãos: a letra árabe N (de “Nasara”, nazareno, cristão) acompanhada da inscrição “Propriedade do Estado Islâmico”.
Especialmente chocante para os cristãos de Mosul que viram essa identificação de suas propriedades, foi o comportamento de seus vizinhos muçulmanos, gente com quem conviviam pacificamente há décadas, agora colaborando voluntariamente com o procedimento do EI. De repente eles afirmaram: “Esta terra pertence ao islã! Os cristãos não devem viver aqui!” Um refugiado cristão de Mosul contou: “Quando os homens do EI entraram em nossa cidade, as pessoas os saudaram com júbilo – e expulsaram os cristãos”.
Na segunda semana de agosto de 2014, o arcebispo caldeu católico de Mosul, Amel Nona, que vive no exílio em Irbil, declarou diante de um jornalista italiano: “Nossos sofrimentos atuais são apenas uma prévia daquilo que espera pelos cristãos europeus e ocidentais em futuro próximo”. E mais: “Vocês precisam dar-se conta da realidade aqui no Oriente Médio, porque o número de muçulmanos que vocês recebem em seus países torna-se cada vez maior. Seus princípios liberais e democráticos não valem nada aqui”.
Em relação aos milhões de muçulmanos na Europa, ele declarou: “Vocês terão de tomar decisões fortes e corajosas, nem que seja às custas de seus próprios princípios”. O jornal italiano Corriere della Sera o descreveu como “um homem marcado pelo sofrimento”, que “não se rendeu”. O arcebispo Nona, conforme suas experiências, ainda vê “uma possibilidade de interromper o êxodo cristão do lugar onde o cristianismo tem raízes bem anteriores ao islamismo: Combater violência com violência!”. Resta ver se os recentes bombardeios às posições do EI poderão impedir o seu avanço. (Johannes Gerloff — israelnetz.de — chamada.com.br)

Nota:

  1. Mais informações em www.judeusdospaisesarabes.com.br.

A tentação de Eva


“Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá”. (Gênesis 2.16,17)
Em seu livro Biblical Theology, Geerhardus Vos se aventura em uma área onde um teólogo iniciante como eu nunca teria lidado de uma maneira tão detalhada. O primeiro ponto de interesse que Vos toca está na distinção entre Adão ser “tentado” e Adão estar em “provação”. Como Vos diz, a razão pela qual não é correto dizer que “Deus tentou” Adão (além de ser uma impossibilidade, cf. Tiago 1.13) é porque a situação no Éden antes da queda era uma “provação”. A diferença entre “tentação” e “provação” é que “por trás da provação há um bem, por trás da tentação um mal”. Enquanto a confirmação na graça para Adão era o bom propósito de Deus na provação de Adão, diz-se que o Diabo tentou Adão e Eva porque ele tinha um mau propósito em sua proposta a nossa Cabeça Federal, Adão.
Para mim, essa foi uma discussão proveitosa, uma vez que frequentemente me perguntava se a situação com a árvore e a proibição de Deus a nossos pais não era, em si mesmo, uma tentação. Ou, pra ser mais exato, frequentemente me perguntava porque isso não era uma tentação.
Segundo o julgamento de Vos, Satanás escolhe tentar Eva baseado na única consideração que a distinguia de Adão: “que a mulher não recebeu pessoalmente a proibição de Deus, como Adão recebeu”. Essa é uma percepção inteligente, pois, como Vos aponta em certo momento, a própria Eva pode ter encarado um dilema a respeito do que Deus realmente tinha dito.
Vos divide a tentação em dois estágios:
  • O primeiro estágio foi uma indução de dúvida em Eva.
  • O segundo estágio acontece quando a dúvida abre espaço para um ataque frontal da serpente à honestidade de Deus.
No primeiro estágio, a serpente propositadamente distorce a ordem de Deus. “Foi isto mesmo que Deus disse: ‘Não comam de nenhum fruto das árvores do jardim’?”. Eva percebeu este erro e corrigiu a serpente.

Aqui, então, vem a segunda parte da tentação, em que Eva agora está aberta a escutar uma negação total da confiabilidade de Deus. A serpente diz: “Certamente não morrerão!”. Vos repara que, se a serpente tivesse iniciado com um pensamento blasfemo, Eva teria repudiado o tentador e o mandado embora. Todo o labor no primeiro estágio fora feito pela serpente para preparar Eva para seu monstruoso ataque.
Vos nota que Eva cita erroneamente a proibição divina. “Não comam do fruto da árvore que está no meio do jardim, nem toquem nele; do contrário vocês morrerão”. Sobre isto, ele diz: “Ali já transparece que a mulher tinha começado a pensar na possibilidade de Deus a restringir de maneira muito severa”. Assim, vemos o trabalho da serpente já em ação. Nesse ponto, o vendedor coloca seu pé segurando a porta.
A serpente aprofunda a mentira lançando uma meia-verdade: “Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus , serão conhecedores do bem e do mal”. Ou, como Vos reconstrói o ataque da serpente: “Deus é alguém cujas motivações tornam Sua palavra duvidosa. Ele faz isso por egoísmo”.
Depois desses dois estágios da tentação da serpente, o trabalho está pronto. A continuação dos eventos acontece no coração de Eva.
Em parte, o motivo principal do ato foi idêntico ao motivo principal que deu força à tentação. Observa-se de maneira dramática que a mulher, ao ceder a esse pensamento, virtualmente coloca o tentador no lugar de Deus. Era Deus quem tinha propósitos abençoadores para o homem, a serpente tinha planos malignos. A mulher age na suposição de que a intenção de Deus é hostil, enquanto a intenção de Satanás é motivada pelo desejo de promover o bem-estar dela. (Ênfase minha)
O que me chama mais atenção sobre tudo isso é a naturezaprofundamente pessoal do pecado de Eva. Ao tomar o fruto, Eva estava chamando deus de mentiroso egoísta, que a enganara. Não somente Eva desobedeceu a Deus, mas ela o desonrou ao chamar a serpente de boa, e o Santíssimo de mal. Comer o fruto foi um ato profundamente blasfemo; não simplesmente um “erro” ou um “engano”. Essa blasfêmia está presente também em cada um de nós. É uma pena que muitos na igreja tendem a pensar sobre a queda e o pecado original (se é que ainda acreditam nisso) em termos de doença, como se o pecado fosse simplesmente um parasita que Deus tenta desesperadamente matar.
O pecado repousa na inclinação do coração; é blasfêmia, o pecado é ódio a Deus, pecado é chamar Deus de mentiroso todas as vezes em que se manifesta. É um ataque pessoal profundo à honra, à veracidade e à santidade de Deus. A resposta justa de Deus a isso deve ser ira e indignação, ou então Deus não valorizaria Seu nome. E se Ele não valoriza Seu próprio nome, então Ele é um idólatra. E se Deus é um idólatra, então Satanás estava certo.
Traduzido por Josaías Jr. | iPródigo | Original aqui
Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Quem são os cristãos coptas e por que 21 deles foram degolados covardemente?


6 perguntas e respostas para você entender melhor o caso dos cristãos egípcios que o Estado Islâmico chamou de “inimigos hostis”

1. Quem são os coptas?

- Os coptas são os descendentes dos antigos egípcios, que se converteram ao cristianismo no século I.

- Quando os muçulmanos conquistaram o Norte da África, a partir do século VII, impuseram ao Egito o seu idioma árabe e a sua religião islâmica. No entanto, uma minoria dos egípcios se manteve cristã e preservou também o idioma copta, derivado da antiga língua egípcia. Hoje, o copta é usado apenas liturgicamente.

- Os coptas formam atualmente 10% da população egípcia e são tratados como cidadãos de segunda classe, motivo que diminui aceleradamente o seu número. Existem altas taxas de migração, além de conversões ao islã por conveniência social.

- A situação da comunidade cristã copta piorou ainda mais depois da queda do ditador egípcio Hosni Mubarak, em 2011. Nos últimos quatro anos, os coptas passaram a sofrer uma forte perseguição por parte de facções islamitas.

- 90% dos cristãos coptas pertencem à Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, que nasceu no próprio Egito. Os 10% restantes (cerca de 800.000 pessoas) se dividem entre a Igreja Católica Copta e a Igreja Protestante Copta.

- A Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria é independente e não está em comunhão nem com a Igreja Ortodoxa nem com a Igreja Católica. A separação aconteceu após o Concílio de Calcedônia, no ano de 451, por divergências doutrinais no entendimento da pessoa e das naturezas humana e divina de Cristo. O atual patriarca ortodoxo copta é Tawadros II.

- Um grupo de coptas separou-se da Igreja Ortodoxa Copta em 1741 para entrar em comunhão plena com a Igreja Católica Romana. Foi assim que surgiu a Igreja Católica Copta, cuja sede fica no Cairo. Os católicos coptas mantêm as suas tradições e ritos litúrgicos orientais, mas reconhecem a autoridade e a primazia do papa de Roma, estando, assim, oficialmente unidos à Santa Sé. Seu patriarca, obediente ao papa, é Ibrahim Isaac Sidrak.


2. Quem eram os 21 coptas sequestrados pelo Estado Islâmico?

- A maioria dos 21 reféns assassinados covardemente eram migrantes de um vilarejo pobre do Egito, que se transferiram para a vizinha Líbia em busca de novas oportunidades.

- Na Líbia, eles se estabeleceram na cidade litorânea de Sirte, a cerca de 500 quilômetros ao leste da capital, Trípoli.

- Foram sequestrados por milícias ligadas ao Estado Islâmico, em Sirte, entre os meses de dezembro de 2014 e janeiro de 2015.

- No último dia 12 de fevereiro, o Estado Islâmico publicou fotos dos 21 reféns em sua revista online "Dabiq", editada em inglês e voltada a divulgar as suas atividades terroristas ao Ocidente.


3. O que os extremistas do Estado Islâmico fizeram com os reféns coptas?

- Em 15 de fevereiro, os terroristas divulgaram em fóruns jihadistas na internet um vídeo estarrecedor, cujo título era "Uma mensagem assinada com sangue para a nação da cruz". Eles se referem à cristandade.

- O vídeo foi editado pela "Al Hayat", uma das produtoras do grupo terrorista. O Estado Islâmico mantém uma sofisticada estrutura de comunicação e propaganda, que serve tanto para recrutar novos membros na Europa e na América do Norte quanto para disseminar as suas ameaças ao Ocidente.

- As imagens no vídeo mostram os assassinos vestidos de preto e os reféns usando um uniforme laranja idêntico ao de outros reféns degolados anteriormente pelo Estado Islâmico na Síria e no Iraque. De mãos amarradas nas costas, os cristãos coptas são conduzidos em fila à beira do Mar Mediterrâneo, na costa líbia, e obrigados a se ajoelhar na praia. Antes de ser degolados, vários deles aparecem movendo os lábios, possivelmente em oração.
4. Por que os terroristas do Estado Islâmico degolaram esses 21 cristãos coptas?
- No mesmo vídeo, um dos jihadistas diz em inglês que a morte dos 21 egípcios é uma reação à "guerra dos cristãos" contra o Estado Islâmico e uma "vingança em nome de Carmelia Shehata", uma cristã copta egípcia que teria se convertido ao islã em 2005 e que, devido a essa conversão, teria sido supostamente mantida presa pelos coptas em um mosteiro cristão. O episódio originou, na época, violentas manifestações por parte dos muçulmanos egípcios, que exigiam a entrega de Carmelia.

5. O Estado Islâmico assumiu o controle da Líbia?
- A Líbia é hoje um país sem governo. A situação está fora de controle desde a queda do ditador Muamar Kadafi, na revolução de 2011. Várias facções controlam porções do país e brigam entre si para expandir o seu domínio territorial.

- Há principalmente dois grupos rivais disputando o poder na Líbia: um controla a capital, Trípoli, e o outro a cidade de Tobruk. O governo reconhecido internacionalmente como legítimo é o que está sediado em Tobruk.

- A importante cidade de Bengasi, palco inicial da revolta contra Kadafi, está hoje sob o domínio de várias milícias jihadistas. Algumas delas mantêm vínculos com a Al-Qaeda.

- A cidade de Sirte também está em mãos de milícias radicais islâmicas. Uma delas é a Ansar al Sharia, o braço do Estado Islâmico na Líbia.

6. De que maneira o Egito reagiu à execução dos seus 21 cidadãos coptas?
- No mesmo dia da execução dos 21 reféns (o último domingo, 15 de fevereiro), o governo egípcio proibiu os seus cidadãos de viajar à Líbia.

- Nesta segunda, 16, o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, ordenou ataques aéreos contra o Estado Islâmico na Líbia.

- Al-Sisi chegou ao poder em 2013, após derrubar, com apoio popular, o governo da Irmandade Muçulmana, que é um partido político de orientação religiosa islamita. A Irmandade Muçulmana tinha ocupado a presidência do Egito após a derrubada de Mubarak, entre 2011 e 2013.

- Al-Sisi considera que o caos no país vizinho ameaça o Egito porque os jihadistas líbios mantêm relações com os extremistas pró-Estado Islâmico que atuam na península egípcia do Sinai. O presidente egípcio é inimigo do islamismo político que hoje controla Trípoli. Por isso, ele reconhece como legítimo o governo líbio baseado em Tobruk.

- O Egito está alinhado com vários países do Oriente Próximo, do Oriente Médio e do Norte da África para combater o Estado Islâmico, que é tido como um inimigo em comum.

Fonte: ALETEIA

http://gritosdealerta.blogspot.com.br/

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Como Amo a Mim Mesmo?


Martin e Deidre Bobgan
Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas" (Mt 22.37-40).
O mundo à nossa volta está promovendo o amor-próprio e a auto-estima. A auto-estima é um aspecto popular da psicologia humanista, que é baseada na crença de que todos nós nascemos bons e que a sociedade é a culpada. Esse sistema coloca o homem como a medida de todas as coisas. A ênfase no ego é exatamente o que começou no Jardim do Éden e se intensifica através dos ensinos humanísticos do amor-próprio, da auto-estima, da auto-realização e auto-etc. Promovendo a auto-estima, a Força-Tarefa Pela Auto-Estima na Califórnia foi a grande responsável por introduzir a ideologia e psicologia humanista nos setores público e privado. (É interessante notar que, em meados de 1988, a Força-Tarefa prestou tributo ao rei da auto-estima, James Dobson, destacando-o em seu boletim informativo. Além disso, seu livro Hide and Seek aparece na lista de leitura deles).
A influência da Comissão Pela Auto-Estima na Califórnia se espalhou pelos EUA. John Vasconcellos promoveu uma iniciativa em âmbito nacional sobre a auto-estima, semelhante à que introduziu na Califórnia. Vasconcellos deixou muito claro que o movimento da auto-estima deveria operar, como tem feito, contra o ensino que ele considerava antiquado, ou seja, que o homem é um pecador. Segundo ele, havia uma dupla visão da humanidade no país: (1) o homem como sendo pecador, e (2) como intrinsecamente bom. Ele declarou que esta era a questão subjacente do movimento da auto-estima. Por não crerem em Jesus Cristo, os humanistas seculares têm o ego como o único centro de interesse do indivíduo. Assim podemos entender por que aqueles que não conhecem a Cristo desejam amar, estimar e satisfazer o ego, pois é a única coisa que têm. E qual é a desculpa da Igreja?
O que há sob toda a retórica referente ao ego é um ataque ao Evangelho de Jesus Cristo.
O que há sob toda a retórica referente ao ego é um ataque ao Evangelho de Jesus Cristo, embora não se trate de um ataque frontal com limites de batalha claramente delineados. Ao contrário, na verdade é uma obra engenhosamente subversiva, não de carne e sangue, mas de principados e potestades, de dominadores deste mundo tenebroso, das forças espirituais do mal nas regiões celestes, tal como Paulo explicou na parte final da carta aos Efésios. É triste sabermos que muitos cristãos não estão alertas contra o perigo. É incontável o número dos que estão sendo sutilmente enganados por um outro evangelho – o evangelho do ego.
Percebemos que muita confusão tem envolvido a Igreja professa pelo uso da terminologia popular a respeito do ego. Em um extremo, encontramos pessoas como Robert Schuller que, de acordo com seu livro Self-Esteem: The New Reformation, parece ter abraçado inteiramente a postura humanista secular. Ele abomina o termo pecador e acredita que a pessoa deve desenvolver a sua auto-estima antes que possa conhecer a Jesus. Ele descarta por completo o que realmente conduz o indivíduo para a cruz de Cristo. Por outro lado, há os que, inconscientes das implicações e da confusão que tais palavras acarretam, vêm lançando mão desta terminologia. Adotando e adaptando-se aos conceitos da psicologia humanista, cristãos professos dizem que temos auto-estima, amor-próprio, valor-próprio, etc., por causa daquilo que somos em Cristo, mas a ideologia subjacente vem atrás.
Com o progresso da influência e da popularização da psicologia, a ênfase em Deus foi deslocada para o ego por uma grande parte da igreja professa. De formas muito sutis, o ego vai tomando o primeiro lugar e, assim, a atitude de ser escravo de Cristo é substituída pela de se fazer o que agrada e que seja para sua própria conveniência. O amor aos outros só é praticado se for conveniente.
Com toda esta ênfase no ego, é natural que os cristãos perguntem se é correto amar a si mesmo. Como Jesus responderia? Embora não seja ardilosa como as dos escribas e fariseus, a questão requer uma resposta "sim" ou "não". O "sim" leva facilmente a toda espécie de preocupação consigo mesmo. E o "não" conduz a um possível: "Bem, então devemos nos odiar?" Nem sempre Jesus respondia como esperavam seus ouvintes. Em vez disso, Ele usava a pergunta como oportunidade de lhes ensinar uma verdade. Sua ênfase sempre era o amor de Deus e o nosso amor a Ele e aos outros.
Lingüisticamente, em toda a Bíblia, o termo agapao é sempre dirigido aos outros, nunca a mim mesmo. O conceito de amor-próprio não é o tema do Grande Mandamento, mas apenas um qualificativo. Quando Jesus ordena amar a Deus "de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força" (Mc 12.30), Ele enfatiza a natureza abrangente desse amoragapao (amor-atitude, que vai além da capacidade do homem natural, sendo possível exclusivamente pela graça divina). Se Ele usasse as mesmas palavras para o amor ao próximo, estaria encorajando-nos à idolatria. Contudo, para o grau de intensidade de amor que devemos ao próximo, Ele usou as palavras "como a ti mesmo".
Jesus não nos ordenou a amar a nós mesmos. Ele não disse que havia três mandamentos (amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos). Ele apenas afirmou: "Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas" (Mt 22.40). O amor-próprio já está implícito aqui – ele é um fato – não uma ordem. Nenhum ensino nas Escrituras diz que alguém  não ama a si mesmo. Paulo afirma: "Porque ninguém jamais odiou a própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como também Cristo o faz com a igreja" (Ef 5.29). Os cristãos não são admoestados a amar ou a odiar a si mesmos. Amor-próprio, ódio-próprio (que é simplesmente uma outra forma de amor-próprio ou preocupação consigo mesmo), e auto-depreciação (possivelmente uma desculpa para culpar a Deus por não conceder ao ego maiores vantagens pessoais), são atitudes centradas no eu. Os que se queixam da falta de amor-próprio geralmente estão insatisfeitos com seus sentimentos, habilidades, circunstâncias, etc. Se realmente odiassem a si mesmos, eles estariam alegres por serem miseráveis. Todo ser humano ama a si mesmo.
Em toda a Escritura, e particularmente dentro do contexto de Mateus 22, a ordem é dirigir aos outros todo o amor que o indivíduo tem por si.
Em toda a Escritura, e particularmente dentro do contexto de Mateus 22, a ordem é dirigir aos outros todo o amor que o indivíduo tem por si. Não nos é ordenado que amemos a nós mesmos. Já o fazemos naturalmente. O mandamento é que amemos os outros como  amamos a nós mesmos. A história do Bom Samaritano, que segue o mandamento de amar o próximo, não só ilustra quem é o próximo, mas qual é o significado da palavra amor. Nesse contexto, amor significa ir além das conveniências a fim de realizar aquilo que se julga ser melhor para o próximo. A idéia é que devemos procurar o bem dos outros do mesmo modo como procuramos o bem (ou aquilo que podemos até erradamente pensar que seja o melhor) para nós mesmos – exatamente com a mesma naturalidade com que tendemos a cuidar de nosso bem-estar.
Outra passagem paralela com a mesma idéia de amar os outros como já amamos a nós mesmos é Lucas 6.31-35, que começa com as palavras: "Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles." Evidentemente Jesus supunha que Seus ouvintes quisessem ser tratados com justiça, amabilidade e misericórdia. Em outras palavras, queriam ser tratados com amor e não com indiferença ou animosidade. Para esclarecer esta forma de amor em contraste com a dos pecadores, Jesus prosseguiu: "Se amais os que vos amam, qual é a vossa recompensa? Porque até os pecadores amam aos que os amam... Amai, porém, os vossos inimigos..."
O amor que Jesus enfatiza é o demonstrado por atos, do tipo altruísta e não o que espera recompensas. Dada a naturalidade com que as pessoas satisfazem suas próprias necessidades e desejos, Jesus desviou-lhes o foco da atenção para além delas mesmas.
Essa espécie de amor pelos outros procede primeiro do amor de Deus, e somente depois de respondermos sinceramente ao amor dEle (de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, de todo o nosso entendimento). Não conseguiremos praticá-lo a não ser que O conheçamos através de Seu Filho. As Escrituras dizem: "Nós amamos porque ele nos amou primeiro" (1 Jo 4.19). Não podemos realmente amar (o amor-ação, agapao) a Deus sem primeiro conhecermos o Seu amor através da graça; e não podemos verdadeiramente amar o próximo como a nós mesmos, sem primeiramente amarmos a Deus. A posição bíblica correta para o cristão não é a de encorajar, justificar ou mesmo estabelecer o amor-próprio, e sim a de dedicar sua vida por amor a Deus e ao próximo como [ ama] a si mesmo. (Martin e Deidre Bobgan - adaptado de um artigo de PsychoHeresy Update -chamada.com.br).
As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos seus autores.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

O preço de ser um discipulo de Jesus Cristo.


Uma reforma nos dias de hoje.


Ezequias – o Homem Que Confiava em Deus*( Titulo original)

Wolfgang Bühne
No terceiro ano de Oséias, filho de Elá, rei de Israel, começou a reinar Ezequias, filho de Acaz, rei de Judá. 2Tinha vinte e cinco anos de idade quando começou a reinar e reinou vinte e nove anos em Jerusalém; sua mãe se chamava Abi e era filha de Zacarias. 3Fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai”. 2Reis 18.1-3
O Rei Ezequias é um dos reis de Judá, ao lado de Josias, em cujo reinado Deus concedeu um reavivamento impressionante. Isso aconteceu numa época em que o juízo de Deus já havia sido comunicado ao povo através dos profetas Oséias e Isaías e que se cumpriu através dos babilônios poucas décadas depois da morte de Ezequias.
No entanto, pouco antes do ocaso, Judá teve esse reavivamento espiritual, uma reforma radical e abrangente. É isso que nos relatam os livros de Reis (2Rs 18-20) e de Crônicas (2Cr 29-32), além do profeta Isaías (Is 36-39).
Estima-se que Ezequias reinou nos anos 715-686 a.C. (alguns consideram o período de 726-697 a.C.), em todo o caso, foi a época em que grande parte do Reino do Norte – Israel – devido à sua idolatria, havia sido levado cativo pelos assírios. Assim, era um período de opressão espiritual e de insegurança, com perspectivas de um futuro deprimente.
É interessante observar que, nos livros de Reis e de Crônicas, a vida de Ezequias é relatada sob perspectivas diferentes:
O livro de 2Reis ressalta as reformas políticas e morais implementadas por Ezequias, enquanto 2Crônicas relata detalhadamente sobre a purificação do Templo e o restabelecimento dos cultos, incluindo a festa da Páscoa, aspectos estes que são totalmente omitidos em 2Reis.

Despertamento no fim dos tempos do povo de Deus

A história de Ezequias é especialmente atual e desafiadora porque nós – Igreja do Novo Testamento – nos encontramos igualmente no fim dos tempos. Esta começou notadamente por ocasião do Pentecoste, porém– se observarmos corretamente os sinais dos tempos – atualmente se encontra no último estágio.
Já no Século XVI, Martinho Lutero escreveu um ensaio alertando sobre a apostasia no Cristianismo da sua época.
Já no Século XVI, Martinho Lutero escreveu um ensaio (“Von der babylonischen Gefangenschaft der Kirche” - “Sobre o Cativeiro Babilônico da Igreja”), alertando sobre a apostasia no Cristianismo da sua época. Quanto mais temos motivos hoje para alertar contra as influências liberais, esotéricas e de fanatismo que ocorrem em igrejas que se denominam “evangélicas”!
Mesmo assim, são poucas as personalidades conhecidas que falam em um reavivamento mundial, de uma futura “segunda reforma”, da “transformação” de povos e nações inteiras ao Cristianismo, etc.
Já há vinte anos, o missiólogo C. P. Wagner, que se auto-denomina “apóstolo” do Cristianismo atual – profetizava que, até que ele morresse, haveria “18 milhões de cristãos na Turquia!”[1]
Além disso, não faz tanto tempo que a organização evangélica mundial “AD 2000”, juntamente com a organização católica “Evangelização 2000”, pretendiam oferecer “um mundo majoritariamente evangelizado” como presente a Jesus no Seu 2.000º aniversário.
Naquela época havia vários “profetas” dizendo que “Deus quer que nos preparemos para o maior avivamento de todos os tempos” e , na opinião deles, “esta é a melhor época, de todos os tempos, para viver com Deus”.
Se, porém, analisarmos com seriedade a situação das igrejas que se consideram evangélicas, pelo menos no mundo ocidental, precisamos concluir que, na maioria dos países, o testemunho cristão está extinto ou sob ameaça de extinção.
No entanto, isso não deve ser motivo de resignação. Apesar de que, nas cartas do Novo Testamento, não haja promessas de um avivamento global para os tempos finais, mas uma tendência para a apostasia, mesmo assim Deus pode, a qualquer tempo e em qualquer lugar, promover avivamentos locais e que podem se expandir. É exatamente isso que podemos aprender da história de Ezequias e também de Josias, em cujas épocas – no fim dos tempos de Israel – Deus concedeu esses avivamentos impressionantes e imprevisíveis.
Um exemplo atual da ação de Deus é a China onde, na nossa opinião, estamos observando o maior avivamento de todo o mundo.
Um exemplo atual para isso é a China onde, na nossa opinião, estamos observando o maior avivamento de todo o mundo e que, no entanto, ocorre sem grandes alardes e que talvez nem seja observado pelos próprios cristãos na China, porque eles somente conseguem acompanhar o desenvolvimento espiritual de seu imenso país em âmbito apenas regional. Lá não existem – pelo menos oficialmente – publicações ou informativos cristãos que relatem sobre o avivamento nas diversas províncias e que, por exemplo, apresentem estatísticas sobre o enorme crescimento da chamada “Igreja Subterrânea”.

“Tempestade tropical” inesperada e repentina

É significativo que o avivamento à época de Ezequias, aparentemente, ocorreu sem que tivesse havido um histórico anterior de vida espiritual do povo de Deus. Ao menos não lemos nada sobre reuniões de oração públicas ou secretas que muitas vezes acontecem durante anos antes de um avivamento. Podemos observar isso diversas vezes na história posterior da Igreja, porém, não parece ter sido o caso no fim dos tempos de Israel. Fica a impressão que não havia nenhuma condição de prognosticar esse avivamento, mas que ele lembra uma repentina “tempestade tropical”, como Martinho Lutero, em 1524, a retratou acertadamente e de modo impressionante:
Queridos alemães, comprem enquanto o mercado está com portas abertas; recolham enquanto houver o brilho do sol e tempo bom; aproveitem a graça e a Palavra de Deus enquanto estiver disponível! Saibam isto: A graça e a Palavra de Deus são como uma tempestade tropical e que não volta mais para o lugar onde ela já passou. Ela esteve com os judeus; no entanto, o que passou, passou, agora eles não tem mais nada. Paulo a levou para a Grécia. O que passou, passou; agora eles têm o turco. Roma e a terra latina também a tiveram; o que passou, passou, agora eles têm o Papa. E vocês, alemães, não pensem que a terão para sempre, pois, a ingratidão e o desprezo não permitirão que ela fique. Por isso, apanhem e segurem aqueles que conseguem apanhar e segurar! Mãos preguiçosas devem ter um ano difícil.[4]

Condições desfavoráveis

Ezequias cresceu em um ambiente ímpio. Seu pai Acaz foi um rei extremamente cruel e ímpio. É inimaginável que o seu filho tenha sido preparado com uma formação especial “bíblica” para suas futuras atribuições. Somente a menção expressa do nome da mãe Abi (abreviatura do nome Abijah [“Deus é meu pai]) e do pai desta, Zacarias (“o Senhor lembra”) parecem indicar que, por parte da mãe, pode ter havido uma influência positiva.
Isso seria um grande consolo e um incentivo para as mães que, ao lado de pais não crentes ou não espirituais, educam os filhos para o Senhor e os preparam para que se tornem discípulos de Jesus.
Ainda assim, por razões que nós desconhecemos, o filho do ateu Acaz recebeu o nome “Ezequias” (“Deus é minha força”) quando nasceu e, de fato, Ezequias posteriormente viveu de modo que honrou o nome de Deus – ele confiava em Deus!
Confiou no Senhor, Deus de Israel, de maneira que depois dele não houve seu semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele” (2Rs 18.5).
Esse rei, cuja confiança em Deus não foi superada por nenhum outro rei entre o povo de Deus, de fato, deveria incentivar-nos ao estudo e à imitação!
Outra peculiaridade na vida de Ezequias é que, quando clamou ao Senhor, sua vida foi acrescida de exatos 15 anos. Como confirmação para isso, Deus fez a sombra do relógio solar retroceder 10 graus.
Finalmente Ezequias é um dos poucos reis que, ao término de sua vida, não estava marcado por pecados ou idolatria, mas pelas “boas obras”. Ele não morreu “sem ser encontrado” (como aconteceu com Jorão, um de seus antecessores), pelo contrário, ele foi sepultado com honrarias e na presença de todo o povo (2Cr 32.32-33).

Avivamento sempre ocorre por graça

Destas poucas observações, vistas até agora, podemos aprender que o avivamento sempre é uma manifestação da graça de Deus. Não é possível organizar um avivamento. Não há uma fórmula confiável para tanto, ao contrário do que algumas personalidades, tanto da história recente como da história antiga da Igreja, tentaram comprovar inutilmente.
O avivamento sempre é uma manifestação da graça de Deus. Não é possível organizar um avivamento. Não há uma fórmula.
O avivamento sempre é uma dádiva de Deus. Às vezes é uma resposta de Deus às orações insistentes e intensivas, porém, outras vezes é uma “chuva passageira” não programável. Isso pode nos trazer esperança e nos encorajar, também em nossa época em que as circunstâncias externas e a situação do povo de Deus apontam para qualquer outra coisa, menos para um avivamento.
Preguiça, mornidão, indiferença e conformação ao mundo são características marcantes entre os cristãos na Europa. Livros do mercado evangélico como“Gottesdienst ohne Mauern” (Cultos sem muros”) ou “Die Welt umarmen” (“Abraçar o Mundo”, ambos os títulos em tradução livre) sem querer descrevem a situação atual das igrejas também em nosso país e que foi descrito acertadamente por A.W.Tozer, há mais de 50 anos:
Fomos criados para nos relacionarmos com anjos, arcanjos e serafins, sim, com o próprio Deus que criou a todos – fomos chamados para sermos como águias voando livremente pelos ares, mas que, agora, afundamos a ponto de estarmos ciscando ao lado de galinhas comuns nos quintais das fazendas – isto, assim eu penso, é o pior que poderia ter acontecido a este mundo”.[5]
Ou, ainda, não menos drasticamente:
Uma igreja debilitada arremeda um mundo forte a se divertir com pecados astuciosos – para a sua própria vergonha eterna.[6]
Atualmente, como cristãos, em nossa latitude é mais comum presenciarmos “momentos sublimes de inutilidade” do que algum sinal de avivamento. No entanto, um monte de esterco pode se tornar em adubo para uma grande área de lavoura. Por isso, a história de Ezequias deveria nos encorajar para “esperar grandes coisas de Deus e fazer grandes coisas para Deus”, como disse, fez e vivenciou William Carey, o missionário pioneiro na Índia.
O fim dos tempos nunca deve ser motivo de resignação ou servir de álibi para a indolência. Muito menos serve de calmante para a desobediência!
“Em cada crise há uma oportunidade”. Nos últimos anos ouve-se constantemente essa afirmação, vinda de todas as direções – tanto de políticos como também de executivos economistas. Por isso, o baixo nível espiritual ou as atuais crises nas igrejas deveriam ser um incentivo, não para investir em “piedosas bolhas de ar”, mas para voltar às raízes e aos sólidos fundamentos da nossa fé.

A importância de modelos espirituais

A sabedoria popular diz que “figuras moldam”. Da mesma forma, um modelo pode marcar e influenciar o curso de uma vida. Ezequias tinha um modelo, um parâmetro para sua vida, no qual ele podia e queria se orientar e comparar. Era um modelo que o ajudou a fazer aquilo que era certo aos olhos de Deus:
Fez ele o que era reto perante o Senhor, segundo tudo o que fizera Davi, seu pai” (2Rs 18.3)
Como o seu pai físico, o rei Acaz, era um homem ímpio e, assim, inadequado para marcar positivamente a vida espiritual de seu filho, Ezequias procurou por orientação entre seus antepassados e encontrou Davi, o rei de Israel, o “homem segundo o coração de Deus”.
É uma bênção quando se encontra, no pai físico, um modelo e alguém que orienta nos caminhos de Deus. É o que lemos, por exemplo, no caso do rei Azarias que foi marcado positivamente pelo seu pai Amazias (2Rs 15.3). Sobre Amazias, a Bíblia relata:
Fez ele o que era reto perante o Senhor, ainda que não como Davi, seu pai; fez, porém, segundo tudo o que fizera Joás, seu pai” (2Rs 14.3).
Quando eu era um cristão jovem, fiquei muito impressionado com uma cena que Wilhelm Busch descreveu na biografia de seu irmão: “Johannes Busch – ein Botschafter Jesu Christi” (“Johannes Busch – um Mensageiro de Jesus Cristo”, em tradução livre).
Os dois filhos estavam, em pé, junto ao esquife de seu pai – Wilhelm com 24 anos de idade e Johannes com 16 anos. Eles estavam se despedindo de um homem, o seu amado pai, pastor e famoso evangelista e que foi um brilhante modelo para eles:
Nós dois ficamos por muito tempo, quietos, junto ao esquife. Então nos damos as mãos, ao lado do esquife, numa aliança silenciosa: Queríamos absorver a herança do pai, queríamos amar ao Salvador.[7]
Essa cena é uma ilustração comovedora para as palavras de Provérbios 17.6: “...a glória dos filhos são os pais”.
Que grande bênção é para nossos filhos quando, como pais e mães, podemos lhes deixar tal herança! Provavelmente a maioria dos pais não imagina quão precioso é esse presente que eles proporcionam para toda a vida a seus filhos e filhas, quando estes, já em tenra idade, podem amar e viver com o seu “pai herói”.
Entrementes, minha esposa Ulla e eu nos tornamos avós de um número crescente de netos. Para nós sempre é uma experiência especial quando observamos como os pequenos olham admirados para o seu pai quando ele se destaca em alguma atividade esportiva ou em brincadeiras ou também em suas atitudes durante o dia-a-dia. (Naturalmente, o mesmo é verdade para as mães!).
Temos a convicção que tais experiências são uma influência muito positiva para a saúde espiritual e psicológica dos filhos e, de fato, representam um “adorno” ou “tesouro” de valor inestimável para toda a vida deles.
Hoje há muitos jovens cristãos à procura de modelos na família ou na Igreja e se decepcionam quando não os encontram.
Hoje há muitos jovens cristãos à procura de modelos na família ou na Igreja e se decepcionam quando não os encontram ou não correspondem às suas elevadas expectativas. No entanto, podemos consultar nossa lista de “antepassados espirituais” e estudar as biografias de homens e mulheres cuja vida foi exemplar, desafiadora e orientadora.
Oswald Sanders expressou isso muito bem:
Se estiver certo que podemos conhecer uma pessoa pelos amigos que ela tem, então também é possível reconhecê-la através da leitura de sua biografia, pois ela reflete a sua fome interior e o seu desejo. (...) Para um líder, as biografias sempre são emocionantes porque elas transmitem personalidades. Nenhum outro gênero literário é capaz de transmitir melhores ensinamentos sobre os caminhos de Deus para a sua gente, além da Bíblia. Não é possível ler sobre a vida de grandes homens e mulheres sem que isso provoque entusiasmo e surja o desejo de uma realidade semelhante.[8]
Cito apenas alguns exemplos de como a leitura de diários e biografias influenciou decisivamente a vida de muitos cristãos:
- Os diários de David Brainerd inspiraram e incentivaram, entre outros, a Jonathan Edwards, John Wesley, William Carey, Henry Martyn, David Livingstone e Jim Elliot;
- A biografia de George Whitefield deixou marcas inextinguíveis em C.H. Spurgeon e em Georg Müller;
- Através dos diários de Georg Müller, por sua vez, Hudson Taylor e muitos outros adquiriram ânimo para se dedicar às Missões, unicamente na confiança em Deus;
- E quem consegue contar quantos homens e mulheres, da nossa geração, que foram desafiados a ter uma vida dedicada a Jesus, baseados no diário de Jim Elliot: “À Sombra do Altíssimo”?

O modelo de vida decisivo

Contudo, na avaliação de boas biografias, não devemos e não queremos nos tornar “luteranos”, “calvinistas”, “menonitas”, “wesleyanos”, “metodistas” ou outros “...istas”. Também a vida e a obra desses homens devem apontar para o nosso Senhor Jesus – cuja vida e exemplo deve ser e permanecer como o único “modelo original” perfeito para nossas vidas. Assim como Ezequias não se contentou apenas com os antepassados tementes a Deus, como Asa, Josafá, etc, mas tomou a Davi como modelo, assim também nós – na apreciação de nossos pais e mães espirituais – devemos permanecer “olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus...” (Hb 12.2). (Wolfgang Bühne -chamada.com.br)

Notas

  1. C.P. Wagner, Der Herrschaftsbereich der Himmelskönigin, Solingen: Ed Gottfried Bernard, 2001, p.32.
  2. W. Bühne, Die Propheten kommen, Bielefeld: CLV, 2 Ed., 1995, p.135 (comparar toda a explanação p. 135-163).
  3. Rick Joyner, Die Engel, die Ernte und das Ende der Welt, Wiesbaden: Projektion J, 1993, p.22-23.
  4. Martin Luther, An die Ratsherren aller Städte deutschen Landes, dass sie christliche Schulen aufrichten und halten sollen, URL: http://www.lutherhaus-eisenach.de/lutherhaus_lutherzitate.htm (1ª parte) e hhttp://clv-server.de/pdf/fut/206/04.pdf (2ª parte), download em 18/01/2013.
  5. A.W. Tozer, Verändert in sein Bild, Bielefeld: CLV, 2ª Ed. 2012 – Meditação para o dia 16/Jan.
  6. A.W. Tozer, Wie kann man Gott gefallen? , Bielefeld: CLV, 2001, p.50.
  7. Wilhelm Busch, Johannes Busch – Ein Botshcafter Jesu Christi, Wuppertal: Aussaat Verlag, 6ª Ed. 1960, p.67.
  8. Oswald Sanders, Geistliche Leiterschaft, Bielefeld: CMV, 2003, p.96-97.