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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Uma teologia da adoração

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por Kevin DeYoung

Não há nada mais importante na vida do que adoração. Todos nós adoramos algo ou alguém. A questão é se adoramos a pessoa certa da forma correta. Na minha igreja, nosso desejo é que toda a vida seja de adoração a Deus (Romanos 12.1-2; 1 Coríntios 10.31). Ele é digno de receber glória, honra e poder (Apocalipse 4.11). Em particular, queremos que nossos cultos de adoração no Domingo sejam agradáveis a Ele. Queremos que nossa adoração conjunta no Domingo inspire e instrua nossa adoração da Segunda ao Sábado. Se reunir com o povo de Deus no dia do Senhor para adorar perante o trono de Deus sob a autoridade da palavra de Deus é nosso dever solene e contente privilégio.
É com esse objetivo supremo em mente que nossa igreja mantém alguns valores, quando se trata da adoração comunitária. Essa lista a seguir está longe de ser abrangente ou completa. Pelo contrário, é uma tentativa de prover um breve sumário dos princípios mais importantes que baseiam nossa teologia e filosofia da adoração.

1. Glória a Deus

A adoração é para Ele. Ele é a audiência mais importante em cada culto. A adoração comunitária é uma antecipação da reunião do povo de Deus no céu. As grandiosas cenas de adoração celestial em Apocalipse são tanto do presente quanto do futuro: nós direcionamos toda a nossa atenção para o trono; cantamos sobre a obra de Cristo; somos sinceros e diretos em nossa devoção a Deus. Nossas reuniões semanais – sejam pequenas ou grandes, extraordinárias ou regulares – são um doce aperitivo da adoração celestial que um dia experimentaremos na eternidade.

2. Foco no evangelho de Cristo

O evangelho – a vida, morte e ressurreição de Jesus – é o que torna a adoração possível. O evangelho é o que proclamamos na adoração. O evangelho é o que cantamos na adoração. O evangelho é o que chama as pessoas à virem adorar em comunhão, inspira as pessoas a louvarem e envia as pessoas para viverem em constante adoração. Cada Domingo é uma nova oportunidade de cantar sobre a cruz, nos gloriarmos no nosso Redentor e nos maravilharmos com as boas novas de Cristo para nós e em nós. Jesus Cristo está no centro de todo o pensamento bíblico a respeito de adoração. Ele é o mediador entre Deus e o homem. Seu sacrifício substitutivo na cruz é a propiciação pelos nossos pecados. Ele é o agente da salvação e a benção para as nações. Ele é o novo templo onde todos os verdadeiros crentes congregam. Cristo nos atrai para si na adoração e, através dele, um novo relacionamento com o Pai é possível. Embora nossa adoração congregacional não seja especialmente focada nos não crentes (como se eles fossem a audiência que precisamos agradar mais), nosso foco em Cristo significa que nós certamente desejamos que o evangelho seja apresentado de forma inteligível e crível aos não cristãos. Somos privilegiados de termos visitantes todo Domingo, dentre os quais alguns não são convertidos. Uma de nossas orações toda semana é que os não crentes ouçam o chamado de Cristo à fé e ao arrependimento, e que Deus busque e salve os que estão perdidos.

3. Bíblica

Todo o culto ensina o povo de Deus, então tudo – as orações, as músicas, a pregação – deve ser bíblico. Na adoração comunitária nós lemos a Bíblia, pregamos a Bíblia, cantamos a Bíblia e vemos a Bíblia nos sacramentos. Cada elemento do culto deve ser avaliado com base na revelação de Deus nas Escrituras: estamos cantando, dizendo e ouvindo a verdade? Como essa é a nossa convicção, também afirmamos que “o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e assim limitado pela sua vontade revelada” (Confissão de Fé de Westminster 21.1). Esse “princípio regulador” não deveria ser a fonte de conflitos sem fim e especulações vazias, mas uma oportunidade para o povo de Deus encontrar unidade e liberdade ao adorar Deus da forma como ele deseja ser adorado.

4. Edificante para o povo de Deus

A adoração corporativa é diferente da adoração diária em seu foco na edificação. Por causa desse foco, há muitas atividades que são apropriadas para o cristão em sua vida que não inapropriadas para o culto. Há muitas formas de arte que podem ser praticadas e apresentadas para a glória de Deus que, entretanto, não são adequadas para a adoração coletiva. O princípio de Paulo em 1 Coríntios 14 é que a adoração conjunta deve buscar o máximo de entendimento comum. Isso significa, entre outras coisas, que o culto de adoração não apenas será centrado na Palavra, mas também será cheio de palavras.

5. Ênfase nos meios de graça

Deus pode agir de diversas formas, mas ele se comprometeu a estar conosco e nos transformar através de certos “meios de graça”. Ele comunga conosco por meio da oração, da palavra e dos sacramentos da Ceia do Senhor e do Batismo. Nossos cultos enfatizam esses meios ordinários pelos quais Deus promete nos dar mais graça. Nos reunimos para adorar para dar glória a Deus, mas também para nos encontrarmos com ele e recebermos as bênçãos de suas mãos (Números 6.24-26). O ato central do culto de adoração é a pregação da palavra de Deus. Nós cremos que isso é melhor realizado por meio da exposição da cuidadosa da Escritura, guiada pelo Espírito Santo. Normalmente, isso significa passar verso por verso de um livro da Bíblia. Independente da abordagem, todo sermão deve fluir claramente da Escritura e proclamar o evangelho de Deus. Por meio disso tudo, esperamos que cada adorador possa clamar “o Senhor está neste lugar” (Gênesis 28.16).

6. Canto congregacional

Escolher a composição musical e o conteúdo lírico da adoração congregacional é uma tarefa que requer atenção cuidadosa aos princípios musicais e mais cuidadosa ainda à fidelidade teológica. Cremos que há canções novas que podem ser cantas para Jesus. Também cremos que há uma grande herança musical na igreja que devemos abraçar. Não vemos problema em projetar letras em uma tela. Mas também cremos no valor que existe em usar e aprender de um bom hinário. Nossos cultos usam músicas de diferentes gêneros e diferentes séculos. Usamos uma variedade de instrumentos, desde guitarras e bateria ao órgão. Em tudo isso, o som mais importante é o da congregação cantando.

7. Liturgia (sem exageros)

Praticamente toda igreja tem uma ordem de culto e um padrão familiar de fazer as coisas, o que significa que toda igreja tem uma liturgia. Mesmo que não sejamos muito rígidos em nossa liturgia, ainda assim queremos que ela seja rica, sólida e bíblica. Nosso culto tem quatro partes: louvor, restauração, proclamação e resposta. Nós vemos esse padrão nas cerimônias de pacto e aliança da Escritura e em diversos encontros divinos. Em Isaías 6, por exemplo, Isaías comparece diante de Deus e o adora; então ele confessa seu pecado e busca restauração; Deus então proclama sua palavra a Isaías; finalmente, Isaías responde com seu compromisso a Deus. Esse também é um padrão do evangelho: nos aproximamos de Deus com admiração, vemos nosso pecado, ouvimos as boas novas e respondemos em fé e obediência. Nossos cultos não são o mesmo toda semana, mas também não tentamos inventar algo novo todo Domingo. Dentro desses quatro “atos” (louvor, restauração, proclamação e resposta) podemos encontrar elementos litúrgicos básicos como uma oração de confissão de pecados e certeza do perdão, uma longa oração pastoral, leitura da Escritura e o Batismo e a Ceia do Senhor.

8. Tradição reformada

A igreja tem pensado em como adorar por séculos. Nós queremos aprender com nossos antepassados espirituais e construir em cima de seus fundamentos. Para esse fim, não hesitamos em empregar os Dez Mandamentos, credos, confissões, catecismos, leituras responsivas e outras formas que tem sido comuns na história da igreja. Queremos que nossos cultos contenham mais do que um “momento de louvor”, um sermão e uma música para encerrar. Como igreja presbiteriana, usamos o Diretório de Culto da nossa denominação. Queremos que nossa adoração seja cativantemente Reformada, isso é, sem ser arcaica ou arrogante, enraizada em nossa herança histórica e fiel à Escritura.

9. Oração

Nossos cultos incluem diversas orações diferentes. Às vezes temos uma oração de confissão, pois pecamos toda semana e necessitamos da misericórdia do evangelho toda semana. Normalmente temos uma oração congregacional mais longa, um tempo importante para orarmos pelas necessidades da família da igreja e pelo mundo. Outras orações também são comuns: uma oração de adoração no início do culto, uma oração por iluminação antes do sermão e uma breve oração após o sermão. Regularmente temos um culto de oração no primeiro Domingo do mês, no culto da noite. É difícil que o povo de Deus entenda que eles devem orar, ou veja que podem orar, ou aprendam a como orar, se a oração não é parte significativa do que fazemos quando nos reunimos para adorar.

10. Excelência que não distrai

Na adoração corporativa, o foco deve ser no evangelho e na glória suprema de Jesus Cristo. Se as guitarras estão desafinadas, o sistema se som está com microfonia, o pregador gagueja em cada frase e quem conduz as músicas deixa todo mundo meio nervoso, então nosso foco estará no lugar errado. Como fazer as coisas com decência e ordem ajuda os outros e é agradável a Deus, devemos buscar adorar com excelência (1 Coríntios 14.40). Mas essa excelência não pode ser algo que distrai (para usar uma expressão do John Piper). Se o guitarrista começa um solo fantástico, o sistema de som possui um sub-woofer embaixo de cada assento, o pregador exala eloquência estética e os que conduzem as músicas parecem fazer você se sentir aproveitando uma performance, então nosso foco estará igualmente no lugar errado. O objetivo é liderar de tal forma que não somos nem desastrados nem espertos demais para que não nos esqueçamos da glória de Deus.
Traduzido por Filipe Schulz | Reforma21.org | Original aqui
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