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segunda-feira, 25 de maio de 2015

Uma vida íntegra


“Porque a nossa glória é esta: o testemunho da nossa consciência, de que, com simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus, temos vivido no mundo, e de modo particular convosco. Porque nenhumas outras coisas vos escrevemos, senão as que já sabeis ou também reconheceis; e espero que também até ao fim as reconhecereis. ” 2 Coríntios 1.12-13
Quando escreveu 2 Coríntios, o apóstolo Paulo estava enfrentando acusações contra seu caráter e ministério. Falsos mestres, dizendo serem apóstolos de Cristo, se infiltraram na igreja de Corinto e, com o fim de enfraquecer a influência de Paulo para que a deles crescesse, começaram um ataque direto à legitimidade do apostolado de Paulo. Muito de 2 Coríntios é uma defesa à integridade de Paulo como um ministro do Evangelho. E ele começa essa defesa declarando que sua consciência está limpa em relação à todas as acusações que estão sendo feitas contra ele.
Mas ele sabe que teria sido muito fácil para os hipócritas, cujas próprias consciências já haviam sido cauterizadas, simplesmente apelar para a consciência dos coríntios com o intuito de se livrar de qualquer acusação. Em 2 Coríntios 1.12-13, Paulo explica que o testemunho de sua consciência limpa é algo mais do que simplesmente um recuo a um estado privado e interior do seu coração que ninguém pode verificar. A consciência limpa é baseada numa vida real de integridade. E essa vida de integridade é marcada por uma série de coisas.

Simplicidade

Primeiro, Paulo diz que ele conduziu a si mesmo em simplicidade. Essa é a palavra grega haplotes. Ela significa “inteireza”, “indivisibilidade”. Simplicidade é o oposto de duplicidade. Paulo usou esse termo em Colossenses 3.22 para exortar os escravos a obedecerem sinceramente a seus mestres terrenos, e não apenas mostrar que estavam fazendo coisas boas: “Vós, servos, obedecei em tudo a vosso senhor segundo a carne, não servindo só na aparência, como para agradar aos homens, mas em simplicidade de coração, temendo a Deus” (ARC). Em outras palavras, não obedeçam ao seu senhor de maneira meramente externa; não trabalhe na duplicidade de se esforçar calorosamente quando seu chefe está te vendo, e depois ser descuidado quando ele não está por perto. Obedeça com simplicidade de coração – seja a mesma pessoa o tempo todo, sabendo que seu objetivo não é simplesmente agradar a homens, mas ao Senhor, perante quem você sempre está presente.
Assim, quando Paulo diz que se conduziu em simplicidade em seu ministério para os Coríntios, isso significa que não haviam partes complexas no caráter de Paulo, como se ele estivesse pintando uma figura de si mesmo sendo uma pessoa na superfície mas alguém realmente diferente em seu íntimo. Não existia um exterior artificial nele de modo que você teria que penetrar para conhecer o real Paulo. Não havia desonestidade ou algum esquema traiçoeiro da parte dele para parecer ser algo que ele não era, para que ele pudesse tirar vantagem dos Coríntios. Com Paulo, o que você vê é o que você leva.

Sinceridade

Segundo, intimamente relacionada com simplicidade, Paulo diz que se conduziu em sinceridade. Essa é uma palavra grega fascinante: eilikrineia. É uma palavra composta, de helios, “sol”, e krino, “julgar”. Literalmente: “julgado pelo sol”.
Agora, qual o sentido disso? Bem, uma das maiores indústrias nos dias de Paulo era a indústria de cerâmica. E, como qualquer outra coisa, os vários tipos de cerâmica variavam em qualidade. A cerâmica de pior qualidade era grossa, sólida, fácil de fazer. Mas a cerâmica mais requintada era mais fina e, portanto, mais frágil. Frequentemente, quando a cerâmica fina estava no fogo, ela quebrava. Agora, ao invés de descartar aqueles vasos que estavam quebrados, mercadores desonestos preenchiam as rachaduras com uma cera dura e perolada que se misturava com a cor da cerâmica quando pintada. Na luz comum, ninguém conseguia apontar a diferença. Mas ao segurar uma peça de cerâmica contra o sol para testá-la, a imperfeição tornava-se perceptível, porque a cera era mais escura do que o restante do vaso. Mercadores honestos geralmente botavam placas em seus produtos com o termo em latim “sine cera”, que quer dizer “sem cera”. Assim “sine cera” é de onde vem a palavra em português “sincero”.
E assim Paulo diz, “Pela graça de Deus, minha conduta é ‘testada-pelo-sol’. Você pode analisar a minha vida contra a penetrante luz solar da Palavra de Deus, e você não achará em meu caráter rachaduras que tentei consertar com cera artificial. Eu não estou desonestamente criando esquemas para aparecer de um jeito perante os homens enquanto sou totalmente diferente abaixo da superfície”. Ele até diz em 2 Coríntios 2.17, “Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da palavra de Deus, antes falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus”. O homem ou mulher de integridade vive a vida inteira na penetrante e ardente luz da presença do próprio Deus. E quando mantidos no brilho de Sua luz, eles são classificados como sine cera, sem cera.

Não com sabedoria carnal

Em seguida, Paulo fala que ele não se conduziu em sabedoria carnal. Sabedoria carnal é aquele tipo de astúcia e inteligência sagaz que marca aqueles que que são egoistamente ambiciosos – aqueles que desejam colocar-se à frente e agarrar o poder, a influência e o reconhecimento.
Em Tiago 3.13-16, Tiago contrasta a verdadeira e divina sabedoria com a sabedoria carnal:
Quem dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom trato as suas obras em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amarga inveja, e sentimento faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica. Porque onde há inveja e espírito faccioso aí há perturbação e toda a obra perversa.
Veja, o homem íntegro não se vale de sabedoria carnal, fingindo ser algo que ele não é para então tirar vantagem das pessoas para seu próprio ganho. Ele não é motivado por ambição invejosa, arrogante e egoísta que busca poder e influência.

Na graça de Deus

Ao invés disso, ele se conduz, em quarto lugar, na graça de Deus. Note o quão bruscamente a sabedoria carnal é contrastada com a graça de Deus aqui. Elas são mutuamente exclusivas. Se você vai operar baseado na sabedoria carnal, buscando conivente e astutamente assegurar posições de influência, você está totalmente fora da graça de Deus. Porém, se você está conscientemente submetendo sua vida ao poder santo e energizante da graça de Deus, você irá falar como Paulo em 2 Coríntios 4.2, onde ele diz, “Antes, renunciamos aos procedimentos secretos e vergonhosos; não usamos de engano nem torcemos a palavra de Deus. Pelo contrário, mediante a clara exposição da verdade, recomendamo-nos à consciência de todos, diante de Deus.”

O que você vê é o que você leva

E então Paulo diz: “Eu tenho me conduzido com integridade. Minha conduta é marcada pela simplicidade e sinceridade de Deus, não com sabedoria carnal, mas na graça de Deus”. E então, no início do versículo 13 ele nos dá um exemplo dessa integridade. Ele diz, “Porque nenhuma outra coisa vos escrevemos, além das que ledes e bem compreendeis”.
Os falsos apóstolos acusaram Paulo de hesitar (2 Coríntios 1.17). Eles falaram que o seu “sim” algumas vezes era “não” e o seu “não” era algumas vezes “sim”; o acusaram de ter escrito uma coisa querendo dizer outra; diziam que suas cartas eram fortes e impressionantes mas que ele teria se comportado de forma bem diferente pessoalmente (2 Coríntios 10.10).
E Paulo diz, “De jeito nenhum!”, ele não escreve nada além do que eles podem ler e compreender. Não há necessidade de ler nas entrelinhas. Não existe significado oculto ou segredo algum em suas cartas. Não há duplo sentido que os Coríntios precisavam decifrar para entender sua verdadeira intenção. Ele não estava “tentando comunicar” algo escondendo o significado com chavões enganosos. Como disse John MacArthur, “Paulo escreveu o que ele queria dizer, e ele queria dizer o que ele escreveu. Suas cartas eram claras, diretas, consistentes, genuínas, transparentes e sem ambiguidade.”

E você?

Esse é o perfil da vida de integridade, que é uma receita para a consciência limpa. Agora precisamos nos perguntar: por esse padrão, somos homens e mulheres de integridade?
Você se conduz em simplicidade? A pessoa que você mostra ser por fora é a mesma que é por dentro? Ou você tem uma “dupla identidade”? Você tem uma personalidade “cristã” que você apenas assume para impressionar seus amigos cristãos e seu pastor? Você finge ser algo que você não é porque você está tão apaixonado pelo louvor dos homens que você parou de trabalhar pela recompensa que Deus dá?
E você se conduz em sinceridade? Se sua vida fosse analisada contra a luz da Palavra de Deus, você seria avaliado como sine cera, sem cera? Ou a esplendorosa luz da própria face de Deus revela rachaduras em seu caráter – rachaduras que mostram que você está fingindo ser algo que não é? Talvez você esteja tentando preencher artificialmente essas rachaduras com a cera da moralidade cristã externa – presença na igreja, estudos bíblicos, conversas “espirituais”, mas no fundo você é outra coisa.

Você repudia a sabedoria carnal? Você renuncia a todo caminho vergonhoso e traiçoeiro? Ou você é motivado por ambição invejosa e egoísta que utiliza astúcia mundana e sabedoria carnal para tirar vantagem das pessoas somente para conseguir o que deseja?
E quando você se comunica com as pessoas – face a face ou virtualmente – o que você quer dizer está sempre estampado em suas palavras? As pessoas podem perceber a sua verdadeira intenção apenas te ouvindo falar? Ou você brinca com as pessoas? Você esconde desonestamente as suas verdadeiras intenções em significados ambíguos para se auto-proteger e conseguir informações? As pessoas tem que ler nas entrelinhas quando estão conversando com você? Ou o seu discurso é marcado pela “clara exposição da verdade”? (2 Coríntios 4.2)
Esse é o perfil de uma vida de integridade. Isso é de onde a consciência limpa provêm. Que Deus lide conosco por meio de Sua Palavra, para receba de seu povo aquilo que ele é Digno, por meio de Cristo, pelo poder santificador do Espírito Santo.
Traduzido por Fernanda Vilela | Reforma21.org | Original aqui
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