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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Bizarrices na igreja evangélica -www.guiame.com.br

Bizarrices na igreja evangélica brasileira é tema da revista Cristianismo Hoje
Em tempos de aberrações teológicas, apologistas e líderes evangélicos demonstram perplexidade diante de desvios doutrinários



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  • O crente brasileiro sabe: vez por outra, a Igreja Evangélica é agitada por uma novidade. Pode ser a chegada de um novo movimento teológico, de uma doutrina inusitada ou mesmo de uma prática heterodoxa, daquelas que causam entusiasmo em uns e estranheza em outros. Quem frequentava igrejas nos anos 1980 há de se lembrar do suposto milagre dos dentes de ouro, por exemplo. Na época, milhares de crentes começaram a testemunhar que, durante as orações, obturações douradas apareciam sobrenaturalmente em suas bocas, numa espécie de odontologia divina. Muito se disse e se fez em nome dessa alegada ação sobrenatural de Deus, que atraiu muita gente aos cultos. Embora contestados por dentistas e nunca satisfatoriamente explicados – segundo especialistas, o amarelecimento natural de obturações ao longo do tempo poderia explicar o fenômeno, e houve quem dissesse que a bênção nada mais era que o efeito de sugestão –, os dentes de ouro marcaram época e ainda aparecem em bocas por aí, numa ou noutra congregação.


    Outras manifestações nada convencionais sacudiram o segmento pentecostal de tempos em tempos. Uma delas era a denominada queda no Espírito, quando o fiel, durante a oração, sofria uma espécie de arrebatamento, caindo ao solo e permanecendo como que em transe. Disseminada a partir do trabalho de pregadores americanos como Benny Hinn e Kathryn Kuhlman, a queda no poder passou a ser largamente praticada como sinal de plenitude espiritual e chegou com força ao Brasil. A coqueluche também passou, mas ainda hoje diversos ministérios e pregadores fazem do chamado cair no poder elemento importante de sua liturgia. A moda logo foi substituída por outras, ainda mais bizarras, como a “unção do riso” e a “unção dos animais”. Disseminadas pela Comunhão Cristã do Aeroporto de Toronto, no Canadá, a partir de 1993, tais práticas beiravam a histeria coletiva – a certa altura do culto, diversas pessoas caíam ao chão, rindo descontroladamente ou emitindo sons de animais como leões e águias. Tudo era atribuído ao poder do Espírito Santo.


    A chamada “bênção de Toronto” logo ganhou mundo, à semelhança das mais variadas novidades. Parece que, quanto mais espetacular a manifestação, mais ela tende a se popularizar, atropelando até mesmo o bom senso. Mas o que para muita gente é ato profético ou manifestação do poder do Senhor também é visto por teólogos moderados como simples modismos ou – mais sério ainda – desvios doutrinários. Pior é quando a nova teologia é usada com fins fraudulentos, para arrancar uma oferta a mais ou exercer poder eclesiástico autoritário. “A Bíblia diz claramente que haverá a disseminação de heresias nos últimos dias, e não um grande reavivamento, como alguns estão anunciando”, alerta Araripe Gurgel, pesquisador da Agência de Informações Religiosas (Agir). Pastor da Igreja Cristã da Trindade, ele é especialista em seitas e aberrações cristãs e observa que cada vez mais a Palavra de Deus tem sido contaminada e pervertida pelo apelo místico. “Esse tipo de abordagem introduz no cristianismo heresias disfarçadas em meias-verdades, levando a uma religião de aparência, sensorial, sem a real percepção de Deus”, destaca.


    “Não dá para ficar quieto diante de tanta bizarrice”, protesta o pastor e escritor Renato Vargens, da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói (RJ). Apologista, ele tem feito de seu blog uma trincheira na luta contra aberrações teológicas como as que vê florescer, sobretudo, no neopentecostalismo. “Acredito, que, mais do que nunca, a Igreja de Cristo precisa preservar a sã doutrina, defendendo os valores inegociáveis da fé cristã. A apologética cristã é um ministério indispensável à saúde do Corpo de Cristo”. Na internet, ele disponibiliza farto material, como vídeos que mostram um pouco de tudo. Um dos mais comentados foi um em que um dos líderes do Ministério de Madureira das Assembleias de Deus, Samuel Ferreira, aparece numa espécie de arrebatamento sobre uma pilha de dinheiro, arrecadado durante um culto. “Acabo de ver no YouTube o vídeo de um falso profeta chamado reverendo João Batista, que comercializa pó sagrado, perfume da prosperidade e até um tal martelão do poder”. acrescenta Vargens. Autor do recém-lançado livro Cristianismo ao gosto do freguês, em que denuncia a redução da fé evangélica a mero instrumento de manipulação, o pastor tem sido um crítico obstinado de líderes pentecostais que fazem em seus programas de TV verdadeiras barganhas em nome de Jesus. “O denominado apóstolo Valdomiro Santiago faz apologia de sua denominação, a Igreja Mundial do Poder de Deus, desqualificando todas as outras. E tem ensinado doutrinas absolutamente antibíblicas, onde o ‘tomá-lá-dá-cá’ é a regra”. Uma delas é o trízimo, em que desafia o fiel a ofertar à instituição 30% de seus rendimentos, e não os tradicionais dez por cento. A “doutrina das sementes”, defendida por pregadores americanos como Mike Murdock e Morris Cerullo nos programas do pastor Silas Malafaia, também rendeu diversos posts. Segundo eles, o crente deve ofertar valores específicos – no caso, donativos na faixa dos mil reais – em troca de uma unção financeira capaz de levá-lo à prosperidade. “Trata-se de um evangelho espúrio, para tirar dinheiro dos irmãos”, reclama Vargens. “Deus não é bolsa de valores, nem se submete às nossas barganhas ou àqueles que pensam que podem manipular o sagrado estabelecendo regras de sucesso pessoal.”

    Fonte: Cristianismo Hoje / Púlpito Cristão


    Via: www.guiame.com.br


    Quem falou que você é um deus?

      

    Quem falou que você é um deus?
      

    Hoje em dia é normal escutar em alguns círculos cristãos que podemos nos tornar deuses. O que antes costumava ser dito no recôndito das seitas heréticas, agora está sendo declarado publicamente por muitas das principais linhas do Cristianismo. Existe um filme intitulado “Os Fabricantes de Deuses” , o qual foi distribuído e apresentado nas igrejas, alguns anos atrás, criticando o ensino desta heresia pela Igreja Mórmon. Infelizmente, este é exatamente o mesmo ensino promovido em vários púlpitos e por muitos pastores evangélicos televisivos, nas três Américas...
    Será que a Bíblia ensina que somos ou que seremos deuses? Os que ensinam isso estão usando João 10:34: “Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?” como base bíblica para tal crença.
            Vamos estudar o contexto desta passagem, para ver se Jesus estava dizendo aos judeus (os quais estavam a ponto de apedrejá-lo) que eles eram ou não eram deuses. Quando lemos os versos precedentes, ficamos sabendo o porquê da frase de Jesus [os líderes da fé/prosperidade costumam usar textos fora do contexto para respaldar suas heresias]: Verso 24:  “Rodearam-no, pois, os judeus, e disseram-lhe: Até quando terás a nossa alma suspensa? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente”. Verso 25:Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo tenho dito, e não o credes. As obras que eu faço, em nome de meu Pai, essas testificam de mim”. Verso 26: “Mas vós não credes porque não sois das minhas ovelhas, como já vo-lo tenho dito”. Verso 27: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; Verso 28: Os judeus estavam exigindo que Jesus lhes dissesse se Ele era realmente o Cristo (Messias). Ele lhes respondeu dizendo que Ele era Aquele que dava a vida eterna: “E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão”. Verso 29:  “Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai”, Verso 30: “Eu e o Pai somos um”. Verso 31: “Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar”. Verso 32: “Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?”  Verso 33:  “Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia; porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo”. Jesus respondeu: (Verso 34): “Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Sois deuses?”.
                Os judeus estavam totalmente certos, quando afirmaram que um simples homem não pode ser Deus, mas tendo em vista que Jesus Cristo é Deus, isso não poderia ser uma blasfêmia. Jesus estava apenas citando o Salmo 82:6: “Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós filhos do Altíssimo”. Este verso é melhor compreendido, quando se lê 1 Samuel 8:4-7: “Então todos os anciãos de Israel se congregaram, e vieram a Samuel, a Ramá, e disseram-lhe: Eis que já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos; constitui-nos, pois, agora um rei sobre nós, para que ele nos julgue, como o têm todas as nações. Porém esta palavra pareceu mal aos olhos de Samuel, quando disseram: Dá-nos um rei, para que nos julgue. E Samuel orou ao SENHOR. E disse o SENHOR a Samuel: Ouve a voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te têm rejeitado a ti, antes a mim me têm rejeitado, para eu não reinar sobre eles”.
            Vemos aqui que judeus desejavam ser seus próprios deuses, tendo sido esta a primeira mentira de Satanás a Eva, conforme Gênesis 3:5: “Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”.
             O desejo de se tornar igual a Deus foi o motivo da queda de Satanás e não é de admirar que ele continue tentando fazer o homem cair no mesmo pecado, compartilhando o desejo de se exaltar acima de Deus, conforme Isaías 14:13-14. Satanás contou uma meia verdade (como tem sido sempre a sua maneira de agir), pois em Gênesis 3:22, lemos que Deus disse: “Eis que o homem é como um de nós...” (referindo-se à Trindade) “sabendo o bem e o mal...” A verdade é que o homem conhece a diferença entre o bem e o mal, exatamente como Deus, mas Deus odeia o mal e ama o bem, não podendo ser tentado pelo mal. Enquanto isso, o homem não apenas é tentado pelo mal como também ama o mal, sem nada poder fazer para evitar isso. A razão é porque ele não é Deus e jamais poderá ser Deus. Se o homem fosse Deus, ele jamais seria capaz de fazer o mal, porque Deus é perfeito... Deus é amor. Por isso o homem nasce e morre com uma tendência insopitável de praticar o mal. Ele foi criado à imagem de Deus e uma imagem é apenas uma imagem, um mero reflexo da coisa real, e jamais pode ser real. Quando Deus nomeou reis para dirigir a nação de Israel,  estes eram apenas os seus representantes para governar como deuses, mas nunca seriam deuses de fato. Saul, Davi e todos os que vieram em seguida, eram homens pecadores, incapazes de fazer exclusivamente o bem. O homem nasce, cresce e morre como homem. Ele nunca foi Deus, jamais será um deus e somente pela infinita graça e misericórdia de Deus ele pode ser declarado justo e ter em certos casos o privilégio de ser um representante de Deus na terra, para depois gozar eternamente a bem-aventurança por Deus outorgada, através do sacrifício vicário de Cristo na cruz.  Foi o que Jesus quis dizer aos judeus em João 10:34. Isso não foi um elogio, mas uma admoestação. Quem usa e ensina esta Escritura como sendo uma prova de que o homem pode ser um deus está ensinando heresia e praticando uma blasfêmia.
            Se você, meu irmão, foi apanhado na armadilha desta heresia satânica, ore para que o Espírito Santo venha  convencê-lo deste pecado, a fim de que, pela justiça divina,  você não venha, futuramente,  a enfrentar um severo juízo. Este ensino é a base dos gurus da Nova Era, os quais estão preparando o mundo para ser governado por um homem diabólico, “o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus” (2 (Tessalonicenses 2:3-4) e todos os que entram nesse engodo estão fadados a sofrer nas mãos desse monstro, por alguns anos, para depois sofrer os horrores da morte eterna, onde todos  serão deuses em ebulição, quando estiverem mergulhados no Lago de Fogo, sem a menor perspectiva de conhecer o único, eterno e absoluto Deus verdadeiro, Aquele que não divide a Sua glória com as criaturas.

    Mary Schultze, 10/08/07
    Artigo inspirado não trabalho “Ye Are Gods?”, da Open Arms Internet Ministry http://www.oaim.org/gods.html

    Os Desigrejados.Augustus Nicodemus Lopes


    Os Desigrejados.

    Para mim resta pouca dúvida de que a igreja institucional e organizada está hoje no centro de acirradas discussões em praticamente todos os quartéis da cristandade, e mesmo fora dela. O surgimento de milhares de denominações evangélicas, o poderio apostólico de igrejas neopentecostais, a institucionalização e secularização das denominações históricas, a profissionalização do ministério pastoral, a busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado, a variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas, de sucesso pastoral, os escândalos ocorridos nas igrejas, a falta de crescimento das igrejas tradicionais, o fracasso das igrejas emergentes – tudo isto tem levado muitos a se desencantarem com a igreja institucional e organizada.


    Alguns simplesmente abandonaram a igreja e a fé. Mas, outros, querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem a igreja. Muitos destes estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar nenhuma. Todavia, existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tomaram esta bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo sem igreja e a necessidade de sairmos da igreja para podermos encontrar Deus. Estas idéias vêm sendo veiculadas através de livros, palestras e da mídia. Viraram um movimento que cresce a cada dia. São os desigrejados.


    Muitos livros recentes têm defendido a desigrejação do cristianismo (*). Em linhas gerais, os desigrejados defendem os seguintes pontos.


    1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional.


    2) Já nos primeiros séculos os cristãos se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente.


    3) Apesar da Reforma ter se levantado contra esta corrupção, os protestantes e evangélicos acabaram caindo nos mesmíssimos erros, ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, e ao elaborarem confissões de fé, catecismos e declarações de fé, que engessaram a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico.


    4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários.


    5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que crêem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Assim, se dois ou três amigos cristãos se encontrarem no Frans Café numa sexta a noite para falar sobre as lições espirituais do filme O Livro de Eli, por exemplo, ali é a igreja, não sendo necessário absolutamente mais nada do tipo ir à igreja no domingo ou pertencer a uma igreja organizada.


    6) A igreja, como organização humana, tem falhado e caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.


    Eu concordo com vários dos pontos defendidos pelos desigrejados. Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação e sua igreja, mesmo quando estas não representam genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a igreja de Cristo não precisa de templos construídos e nem de todo o aparato necessário para sua manutenção. Ela, na verdade, subsistiu de forma vigorosa nos quatro primeiros séculos se reunindo em casas, cavernas, vales, campos, e até cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a oficialização do Cristianismo por Constantino, no séc. IV.


    Os desigrejados estão certos ao criticar os sistemas de defesa criados para perpetuar as estruturas e a hierarquia das igrejas organizadas, esquecendo-se das pessoas e dando prioridade à organização. Concordo com eles que não podemos identificar a igreja com cultos organizados, programações sem fim durante a semana, cargos e funções como superintendente de Escola Dominical, organizações internas como uniões de moços, adolescentes, senhoras e homens, e métodos como células, encontros de casais e de jovens, e por ai vai. E também estou de acordo com a constatação de que a igreja institucional tem cometido muitos erros no decorrer de sua longa história.


    Dito isto, pergunto se ainda assim está correto abandonarmos a igreja institucional e seguirmos um cristianismo em vôo solo. Pergunto ainda se os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira. Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da igreja, mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições à sua maneira de pensar e de agir. Fico com a impressão que eles querem se livrar da igreja para poderem ser cristãos do jeito que entendem, acreditarem no que quiserem – sendo livres pensadores sem conclusões ou convicções definidas – fazerem o que quiserem, para poderem experimentar de tudo na vida sem receio de penalizações e correções. Esse tipo de atitude anti-instituição, antidisciplina, anti-regras, anti-autoridade, antilimites de todo tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo, que entra nas igrejas travestida de cristianismo.


    É verdade que Jesus não deixou uma igreja institucionalizada aqui neste mundo. Todavia, ele disse algumas coisas sobre a igreja que levaram seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda no período apostólico e muito antes de Constantino.


    1) Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd 2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. Não admira que os apóstolos estivessem prontos a rejeitar os livre-pensadores de sua época, que queriam dar uma outra interpretação à pessoa e obra de Cristo diferente daquela que eles receberam do próprio Cristo. As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm 16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas Escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados.


    2) A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro.


    3) Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co 5). Não entendo como isto pode ser feito numa fraternidade informal e livre que se reúne para bebericar café nas sextas à noite e discutir assuntos culturais, onde não existe a consciência de pertencemos a um corpo que se guia conforme as regras estabelecidas por Cristo.


    4) Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14).


    5) Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At 15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino.


    6) Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que crêem a mesma coisa sobre o Senhor.


    É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.


    O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).


    No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas idéias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.


    Eu não tenho ilusões quanto ao estado atual da igreja. Ela é imperfeita e continuará assim enquanto eu for membro dela. A teologia Reformada não deixa dúvidas quanto ao estado de imperfeição, corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no presente, enquanto aguarda a vinda do Senhor Jesus, ocasião em que se tornará igreja triunfante. Ao mesmo tempo, ensina que não podemos ser cristãos sem ela. Que apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos regulares.


    Cristianismo sem igreja é uma outra religião, a religião individualista dos livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus pensamentos à obediência de Cristo.
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    NOTA:
    (*) Podemos mencionar entre eles: George Barna, Revolution (Revolução), 2005; William P. Young, The Shack: a novel (A Cabana: uma novela), 2007; Brian Sanders, Life After Church(Vida após a igreja), 2007; Jim Palmer, Divine Nobodies: shedding religion to find God(Joões-ninguém divinos: deixando a religião para encontrar a Deus), 2006; Martin Zener, How to Quit Church without Quitting God (Como deixar a Igreja sem deixar a Deus), 2002; Julia Duin, Quitting Church: why the faithful are fleeing and what to do about it (Deixando a Igreja: por que os fiéis estão saindo e o que fazer a respeito disto), 2008; Frank Viola, Pagan Christianity? Exploring the roots of our church practices (Cristianismo pagão? Explorando as raízes das nossas práticas na Igreja), 2007; Paulo Brabo, Bacia das Almas: Confissões de um ex-dependente de igreja (2009).

    domingo, 29 de agosto de 2010

    A Assembléia de Deus e o movimento neoassembleiano ..Ciro Sanches Zibordi

    A Assembléia de Deus e o movimento neoassembleiano

    Precisamos refletir sobre o que é ser pentecostal e assembleiano













    Sou pentecostal, membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus desde 1987. Neste ano, fui batizado com o Espírito Santo e nas águas, nessa ordem. Creio em milagres, minha vida é um milagre, tenho visto muitos milagres. Nasci num lar pentecostal e cresci em meio a visões, revelações, curas, línguas estranhas, etc. E, por mais que eu tenha hoje um lado contestador — que não é exclusividade minha, posto que Paulo (2 Co 11.3-15) e o próprio Senhor Jesus (Mt 23; Ap 2-3), só para exemplificar, também se opuseram a heresias e modismos , sempre cri na multíplice obra do Espírito Santo mediante a diversidade de dons, ministérios e operações (1 Co 12.4-11).

    Mesmo assim, sou contra — por que a Palavra de Deus também o é — ao movimento neoassembleiano, que é experiencialista e prioriza manifestações como “cair no poder”, “unção do riso”, “unção do leão”, “unção da lagartixa”, além da ênfase exagerada à prosperidade financeira, que muitos chamam de uma “unção financeira dos últimos dias”.

    Na adolescência e na juventude, tive contato com todo o tipo de manifestação pentecostal e pseudopentecostal. Sei o que são cultos no monte; conheço vigílias do “reteté”, que na minha época não recebiam esse adjetivo grotesco e vulgarizante. Fui dirigente de duas congregações em São Paulo e conheci todo o tipo de crente, dos mais frios aos mais fervorosos; desde os mais céticos até os mais fanáticos.

    Por graça de Deus, sou ministro do Evangelho desde 1992, ano em que fui consagrado a presbítero (ministro local), mas recebi o título de ministro pela CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus) somente em 1997, na Assembléia de Deus do Belenzinho em São Paulo. Na ocasião, tendo o meu nome apresentado pelo saudoso pastor e pregador do Evangelho Valdir Nunes Bícego, fui consagrado ao santo ministério numa reunião presidida pelo pastor José Wellington Bezerra da Costa.

    Que fique clara uma coisa: não sou um teórico, frio, gelado. Tenho plena convicção bíblica e experiencial de que o “cair no Espírito” e outras manifestações que ora ocorrem no meio da quase-centenária Assembléia de Deus não têm aprovação divina. Não estou sendo apressado em minhas conclusões. Falo com conhecimento de causa, depois de ter analisado cuidadosamente as bases e os resultados das tais manifestações.

    Como tenho dito em meus livros editados pela CPAD, pessoas sinceras e tementes a Deus estão certas de que o “cair no Espírito” e a “unção do riso” são bíblicos. E algumas se apegam ao fato de manifestações similares às mencionadas terem ocorrido na Rua Azusa, em Los Angeles, no começo do século XX, e no início da Assembléia de Deus no Brasil. Mas é claro que as experiências relacionadas com o reavivamento do Movimento Pentecostal não se comparam com as aberrações que vemos hoje.

    Naquela época, não havia paletó e sopro “ungidos”, empurrões “sutis”, uivos, rugidos, latidos, pessoas rastejando pelo chão, grudadas na parede, etc. Além disso, não se deve supervalorizar as experiências vividas pelos pentecostais do começo do século XX, a ponto de as equipararmos às incontestáveis verdades da Bíblia. Devemos, sim, respeitar os pioneiros, mas a nossa fonte primacial, precípua, de autoridade tem de ser a Palavra de Deus.

    O “cair no poder”, a “unção do riso” e manifestações afins não se coadunam com os princípios e mandamentos contidos em 1 Coríntios 14. Essas manifestações aberrantes não edificam (v.12); contrapõem-se ao uso da razão, necessário num culto genuinamente pentecostal (vv.15,20,32); levam os incrédulos a pensarem que os crentes estão loucos (v.23); e promovem desordem generalizada (vv.26-28,40).

    Muitos neoassembleianos, defensores dessas manifestações, dizem que estão na liberdade do Espírito, porém o texto de 1 Coríntios 14 não avaliza toda e qualquer manifestação. No culto genuinamente pentecostal deve haver julgamento, discernimento, análise, exame (vv.29,33). Por isso, no versículo 37, está escrito: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que essas coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor”. Leia também 1 Tessalonicenses 5.21 (ARA); João 7.24 e 1 João 4.1.

    Não tenho dúvidas de que o Senhor opera milagres extraordinários em nosso meio. Ele é o mesmo (Hb 13.8). Mas o que temos visto hoje em algumas Assembléias de Deus são práticas viciosas e repetitivas. Jesus curou um cego com lodo que fez com a sua própria saliva, porém Ele não metodizou esse modo de dar vista aos cegos. A obra de Deus surpreende, impressiona, positivamente, e deixa todos maravilhados (Lc 5.26). As falsificações são viciosas, premeditadas, propagandeadas, a fim de que o milagreiro receba a glória que é exclusivamente de Deus (Is 42.8).

    O “cair no poder”, a “unção do riso” e outros “moveres” não têm apoio das Escrituras e não podem ser equiparados ao batismo com o Espírito Santo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, mencionado com clareza na Palavra de Deus (Jl 2.28,29; Mc 16.15-20; At 2; 10; 19; 1 Co 12-14, etc.). Por isso, os neoassembleianos recorrem a passagens que nada têm que ver com o assunto.

    Citam textos como 2 Crônicas 5.14 e 1 Reis 8.10,11 e dizem, com a boca cheia: “Os sacerdotes não resistiram a glória de Deus e caíram no poder”. Que engano! Veja o que a Bíblia realmente diz: “E sucedeu que saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR. E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do SENHOR” (1 Rs 8.10,11). Observe que eles saíram do local; não ficaram ali caídos. Não houve também um “arrebatamento em grupo”.

    A frase “não podiam ter-se em pé” tem sido empregada de modo errôneo e abusivo pelos neoassembleianos. Eles a interpretam como “caíram no poder”. Mas ela, na verdade, denota que os sacerdotes “não puderam permanecer ali”, o que fica ainda mais claro na versão Almeida Revista e Atualiza (ARA). Eles não suportaram permanecer no local ministrando! Não tinham como resistir a glória divina presente ali. Por isso, não permaneceram no local. Onde está escrito que eles caíram no poder?

    Outro texto citado erroneamente em abono às manifestações neoassembleianas é João 14.12, pelo fato de mencionar “coisas maiores” do que as realizadas por Jesus. Mas o termo “obras” (gr.
     
    ergon) significa: “trabalho”, “ação”, “ato” (VINE. W.E., Dicionário Vine, CPAD, pp.764,827), e não “milagres” ou “manifestações”, estritamente. Essas obras maiores incluem tanto a conversão de pessoas a Cristo, como a operação de milagres (At 2.41,43; 4.33; 5.12; Mc 16.17,18). Exegeticamente, são obras maiores em número e em alcance. Dizem respeito à quantidade em lugar de qualidade. João 14.12, por conseguinte, não avaliza truques, trapaças, experiências exóticas e antibíblicas, além de fenômenos “extraordinários” (cf. Dt 13.1-4; 2 Ts 2.9; Mt 7.21-23).

    O paradigma, o modelo, dos pregadores da Assembleia de Deus deve ser o Senhor Jesus Cristo, que andou na terra fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo porque Deus era com Ele (At 10.38). É perigoso quando resolvemos ter um ministério “sem limites”, em que nada pode ser contestado, à luz da Bíblia. Tudo deve, sim, ser regulado, controlado pelo Espírito Santo e pela vontade de Deus esposada em sua Palavra (Mt 7.15-23; 1 Jo 4.1; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; Jo 7.24, etc.).

    Na Palavra de Deus não há nenhum fundamento para o “cair no poder” e outras aberrações. O Senhor Jesus nunca derrubou ninguém. Ele não arremessa pessoas ao chão mediante sopros “ungidos” e golpes de paletó. Quem gosta de lançar as pessoas ao chão é o Diabo (Mc 9.17-27). Em Lucas 4.35, está escrito: “E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal”. Jesus, o maior Pregador que já andou na terra, e seus apóstolos nunca impuseram as mãos sobre pessoas para levá-las ao chão. Eles jamais sopraram sobre elas ou lançaram parte de suas roupas a fim de derrubá-las.

    Considero importantes os milagres e as curas, no nosso meio, Mas, na hierarquização feita por Deus, o Ministério da Palavra tem prioridade (1 Co 12.28; Jo 10.41). Os sinais, prodígios e maravilhas devem ocorrer naturalmente, como consequência da pregação do Evangelho (Mc 16.15-20). E Deus precisa estar no controle, sempre. Mas hoje há muita imitação, falsificação, misticismo no meio dito assembleiano, que é na verdade neoassembleiano.

    “Converte-nos, SENHOR, a ti, e nós nos converteremos; renova os nossos dias como dantes” (Lm 5.21).

    Ciro Sanches Zibordi



    O poder de Deus e o poder do amor.

    François Varillon - 






    Nós, cristãos, afirmamos tranquilamente, como se isto fosse evidente, que Deus é todo-poderoso ou será que pronunciar tais palavras provoca em nós um mal-estar?
    Creio que para muita gente, isto não apresenta dificuldades; efetivamente, Deus é Deus, não se compreende como não será todo-poderoso. Mas há outras pessoas, contudo, cada vez mais numerosas na época de crise que ora atravessamos, para as quais as afirmações de uma onipotência de Deus é o mais grave motivo para não crer.
    Não sejamos superficiais ao analisar a posição desses homens: no fundo, eles julgam mais digno do homem e, consequentemente, mais verdadeiro proferir um céu vazio ao fantasma de um Imperador do mundo, potentado, déspota, dramaturgo supremo, a manobrar as marionetes da tragicomédia humana, fixando, petrificando ou curto-circuitando liberdades, que, aliás, supõe-se que haja criado.
    Admito ateus que são ateus por lhes parecer contraditório o conceito do Absoluto ou de Transcendente. Creio, porém, que a maioria dos ateus são aqueles que abominam uma onipotência que seria denegadora ou destruidora de nossa liberdade. De todas as flechas que visam a fé cristã ou mesmo ao deísmo, a que pretende ferir Deus em sua onipotência é a que mais seguramente se aproxima do alvo.
    Ora, se reflito naquilo que creio (e eu os convido a refletir naquilo em que crêem), vejo claramente o seguinte: seria radicalmente impossível para mim fiar-me em Deus, abandonar-me a Ele em confiança se nada soubesse sobre a natureza de seu poder. Ele é todo-poderoso mas poderoso com que poder? Diante de um ser muito poderoso, recomenda-se prudência.
    A mais elementar sabedoria manda desconfiar. Antes de tudo, permanecer livre, salvaguardar a independência. Mais vale o niilismo (do latim, nihil: nada) que a escravidão. O niilismo é a grande tentação deste século, pois o gosto pelo nada, por amargo que seja, é menos amargo que o da servidão. Entre não ser e ser escravo do poder de Hitler, escolho deliberadamente não ser.
    Bem sei que o niilismo é um sonho, pois o fato é que eu existo. Mas posso ao menos deixar-me escorregar pela rampa que conduz ao suicídio. Menor loucura é suicidar-se que cair nas mãos de alguém que nos ameaça a liberdade. Não posso afirmar que creio num Deus todo-poderoso, a não ser que tenha a certeza de que se trata de um poder que não ameaça a minha liberdade.
    Em outros termos (e aqui peso as palavras, pois se trata do essencial de minha fé), se eu não acreditasse que Deus só é poderoso para amar e ir até o cúmulo do amor, até a morte (morrer pelos que se ama) e o perdão (perdoar os que nos matam), se eu não acreditasse que o poder de Deus é um Sobrepoder cuja natureza é renunciar por amor à utilização dos meios do poder para manipular as criaturas, eu imediatamente aceitaria que os homens descessem a encosta do sonho niilista e teria o cuidado de não acusar meus contemporâneos que se deixam fascinar por esse sonho.
    Tudo muda, porém, se a onipotência de Deus é a onipotência de amor. Entre onipotência e amor todo-poderoso, há uma grande diferença; há, literalmente, um abismo. O cristão não diz acreditar que Deus é todo-poderoso, diz acreditar em um Deus Pai todo-poderoso. Importância decisiva na preposição “em” seguida do nome próprio. No credo, a afirmação de Deus e de sua onipotência é pronunciada e compreendida num movimento de confiança e amor, expresso precisamente por essa preposição. Dizer: creio em ti é dizer: sei que teu poder não é um perigo para a minha liberdade, mas que ele está, bem ao contrário, a serviço de minha liberdade. “Crer em”, a chave é esta.
    [...]
    A fé é o impulso de todo ser para Deus, o comprometimento do mais profundo de si; se assim não for não se trata de fé. Um tal impulso seria delírio e loucura, não houvesse a certeza de que Deus é todo-poderoso para amar, que o amor, não o poder, é que é a essência de Deus; que o poder é um atributo do amor. Confiar-me sem reservas a um poder que poderia ser perigoso para minha liberdade seria loucura. Abandonar-me a um ser desprovido de poder seria igualmente loucura. E a ideia de um amor isento de poder ou energia é igualmente louca, insensata. Mas, ao contrário, o que se preenche magnificamente de sentido é a acolhida à Energia de amar. Ora, o Espírito Santo é isso: a Energia Divina de amar que nos foi dada.
    [...]
    Crer na onipotência de Deus, crer que Deus é todo-poderoso sem acreditar nele: nada há de igual para falsear a vida religiosa pela raiz. Nada de igual para desencadear uma mentalidade mágica. A história das religiões demonstra que a mentalidade e as práticas mágicas pululavam na história e ainda em nossos dias, mesmo nos meios cristãos, a despeito dos eufemismos vocabulares eclesiais. Não nos deixemos enganar pelas palavras. O que está em jogo, em relação a Deus, são frequentemente o interesse e o medo.
    Manda o interesse que se busque utilizar a onipotência em nosso benefício; e exige o temor que se encontrem meios de preservar do perigo que ela encerra. E isto nada tem a ver com a fé. É magia. Se fosse possível psicanalisar o conteúdo do espírito de certo número de cristãos mal-educados, perceber-se-ia que eles dizem, baixinho: “O que será que Deus está cozinhando lá em cima? Que estará preparando para mim? Ventura ou desventura? Saúde ou doença? Sucesso ou fracasso? Por interesse e por temor, vou orar para que não me prepare nada de desagradável”.
    Até o dia em que surge a tentação de exorcizar radicalmente a ameaça, dizendo: não há um Deus todo-poderoso. Nesse momento é que o ateísmo irrompe para a consciência adulta como a mais racional das atitudes. E isto não é de todo falso. É só não esquecer a frase de Pascal: “O ateísmo é sinal de força do espírito, mas só até certo grau”. Porque sob o céu transformado em deserto, esvaziado do supremo todo-poderoso, nascem e proliferam outros poderes, poderes que não se temerá absolutizar alegremente, em todos os níveis da vida individual e coletiva. São poderes que bem conhecemos: dinheiro, sexo, raça, partido, etc. Tudo nele pode tornar-se poder de dominação, de opressão, de destruição. Toda mutação da civilização é, de certo modo, uma mutação de idolatria.
    Tudo isto – magia supersticiosa ou ateísmo negativo (a escolha é de vocês) é inevitável, se o poder de Deus não for compreendido como poder de amor. O cristão crê na onipotência do amor. A fé é um ato íntimo de sua liberdade, que o compromete até o mais profundo de si e o põe em movimento rumo a um Amor que só sabe amar. O cristão não diz que crê em Deus todo-poderoso; ele diz crer em Deus Pai todo-poderoso. O que clama, o que canta é o poder de uma paternidade.
    A estrutura do Credo é trinitária. Nem eu nem os cristãos cremos que Deus é um eterno Narciso, a contemplar a si mesmo, a admirar-se, a consumir-se a si mesmo, a absorver-se, a encarnar-se. Crer num tal Deus seria manifesto absurdo. Quando muito, eu poderia pensar que tal Deus narcísico existe. Mesmo assim... crer nele é impossível.
    Ser a preposição “em” é essencial ao ato de fé, Aquele em quem eu creio só pode ser o Pai. E se o nomeio Pai, isto exige que, no mesmo impulso de pensamento e de amor, eu nomeie também o Filho e o Espírito. Dizer que Deus é amor, e dizer que Ele é Trindade é exatamente a mesma coisa. 
    14-07-10
    (Extraído de "Crer para viver" - Edições Loyola - páginas 143-147)

    Meu jeito de teologar - Ricardo Gondim.

    Meu jeito de teologar
    Ricardo Gondim





    Teologia é linguagem sobre Deus. Com teologia procuramos juntar os cordões que podem dar sentido à nossa existência. Ansiamos por achar a nós mesmos enquanto arfamos pelo Divino. Rubem Alves acertou quando disse que a teologia não pode ser malha que prende o Mistério, mas é rede onde nos deitamos. Teologia é linguagem precária. Nela peregrinos se aconchegam e encontram ânimo na busca por Deus.
    Como pastor de uma comunidade pujante, que reúne quase três mil pessoas por domingo, sei que em todos os sermões, de alguma forma, faço teologia. Adolescentes irrequietos, universitários idealistas, pequenos e médios empresários, funcionários públicos e idosos sábios chegam com muitas perguntas. Diante de suas aflições, vaidade, arrogância e cinismo perdem força.
    Domingo, molhei a camisa com as lágrimas de uma mãe que havia enterrado o filho que se suicidara menos de um mês antes. Meu abraço, mesmo sem palavra alguma, era uma resposta calada diante de sua dor. Ali, eu articulava teologia em silêncio. Na impotência de não ter o que dizer naquela situação, simultaneamente comum e brutal, notei que o encadeamento da lógica religiosa carece da delicadeza de um violino.
    Naquele rápido momento, vi que não havia como padronizar uma resposta. A gente só percebe o vício do lugar-comum, do clichê, do jargão, quando se vê diante de alguém destroçado pela tragédia.
    Nesses confrontos inesperados com a dor, aprendemos a respeitar os dramas que nos rodeiam. Ficamos diante da insuficiência da linguagem. Foi desses encontros trágicos que mudei e mudei muito. Agora, quero teologar com menos altivez.
    Quero falar de Deus sem exigências messiânicas; desprovido da presunção de lídimo defensor da sã doutrina. Desejo tão somente oferecer o ombro e abrir mão de minhas muitas explicações. Se no passado confundi entusiasmo com afobação, zelo com intolerância, arrojo com precipitação, hoje tento um pisar mais simples diante de Deus e dos homens.
    Quero falar de Deus com mansidão. Sem reputação a defender, desisto do fascínio do sucesso, de angariar plateias, de inebriar-me com aplausos. Quero encarnar o significado mais profundo de “estar crucificado com Cristo”. Depois de tantos anos, ainda não me vesti da mesma atitude do meu Senhor, que se esvaziou para servir.
    Quero falar sobre bondade, essa rara e nobre virtude que transcende nossas ações para nos integrar ao agir de Deus. Preciso ser bondoso comigo mesmo, não deixando que falsas culpas detonem processos internos de intransigência com o próximo; ser paciente com as inadequações dos que claudicam e doar-me como São Francisco de Assis: “Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar que ser consolado; compreender que ser compreendido, amar que ser amado. Pois é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado e é morrendo que se nasce para a vida eterna”.
    Quero pregar mais sobre o Deus comensal, que nos convida ao banquete como pretexto para a intimidade. Quero fomentar uma espiritualidade de cozinha e não dos academicismos gelados. Desejo aprender lealdade na camaradagem da conversa solta; e no riso farto experimentar a alegria do reino de Deus.
    Quero falar sobre os benefícios do sábado, não do sábado legalista, cravado no calendário, mas daquele que diz “basta” diante dos reclames da riqueza. Quero que a existência não se resuma ao trabalho; despertar para a urgência de eternizar cada encontro. Recordo-me de ter lido um verso sucinto: “A vida é curta, e acaba...”. Não levaremos daqui outra coisa senão as nossas memórias, portanto, que elas sejam doces.
    Quero falar sobre Deus, sem esquecer o chão da fábrica, o quintal da casa, o pátio do colégio, a coxia do teatro, o corredor do hospital e a encosta da favela. De nada me adiantará “falar em tese”, se não conseguir encarar os Josés, as Tânias, os Rodrigos e as Kátias, que lutam bravamente para dar sentido à vida. Vejo a necessidade crescente de conversar com pessoas cujos nomes foram escritos não apenas no Livro da Vida, mas na palma da mão de Deus. Não quero que discursos substituam a força do abraço. Os amigos de Jó tropeçaram nos cadarços porque se imaginaram aptos para oferecer consolo com juízos horrorosos.
    Quero falar do céu sem desgrudar-me do mundo e mostrar que a vida abundante prometida por Jesus não merece ser empurrada para depois da morte. Repetirei as palavras de Paulo: “Foi para a liberdade que Cristo nos libertou”. Vou enfatizar que a verdadeira religião consiste em cuidar do órfão e da viúva. E não esquecerei: toda a lei se resume em amar a Deus e ao próximo como a mim mesmo.
    Se conseguir teologar assim, com a ternura dos poetas e a paixão dos profetas, completarei a minha carreira, tendo guardado a fé.
    Soli Deo Gloria


    02-08-10
    O Leão e o Cordeiro.