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terça-feira, 20 de julho de 2010

A Importância da Pregação - Joel R. Beeke

A Importância da Pregação


por Joel R. Beeke

“Vede, pois, como ouvis” — Lucas 8:18

João Calvino freqüentemente instruía sua congregação sobre a forma correta de se ouvir a Palavra de Deus. Ele os ensinou como vir ao culto público e como ouvir a Palavra de Deus pregada. Calvino queria que pais e filhos abraçassem a importância da pregação, para que pudessem desejá-la como uma benção suprema, e participar ativamente no sermão. Calvino dizia que os ouvintes deveriam ser “prestos em obedecer a Deus completamente e sem reservas”. [1]

Calvino insistiu com seus ouvintes a respeito da pregação da Palavra por duas razões importantes: Primeiro, ele cria que poucas pessoas ouviam bem os sermões. Mais de trinta vezes em seus comentários e nove vezes em suas Institutas, Calvino se refere ao fato de que poucas pessoas recebem a pregação da Palavra com fé salvadora. Ele diz: “Se o mesmo sermão é pregado, digamos, para uma centena de pessoas, vinte o recebem com a pronta obediência da fé, enquanto o restante o toma como sem valor, risível, desprezível, ou repugnante.” [2] Se isto era um problema nos dias de Calvino, quanto mais hoje, quando ministros têm de competir pela atenção de pessoas bombardeadas diariamente pelos vários tipos de mídia?

Em segundo lugar, Calvino insistiu com seus ouvintes a respeito da maneira apropriada de ouvir os sermões em razão da alta consideração que tinha pela pregação. Calvino via a pregação como um meio usado por Deus para abençoar e salvar. Ele dizia que o Espírito Santo é o “ministro interior” que usa o “ministro exterior” da pregação da Palavra. O ministro exterior “articula a palavra audível e ela é recebida pelos ouvintes”, mas o ministro interior “verdadeiramente comunica aquilo que é proclamado, [que] é Cristo.” [3] Assim, Deus fala através da boca de Seus servos pelo Seu Espírito: “Sempre que o evangelho é pregado, é como se Deus, em pessoa, estivesse entre nós.” [4] A pregação fiel é o meio pelo qual o Espírito faz Sua obra salvadora de iluminar, converter, e confirmar os pecadores. Calvino dizia: “Há…uma eficácia interna do Espírito Santo quando emprega seu poder sobre os ouvintes, de modo que podem abraçar um discurso [sermão] pela fé.” [5]

Como Calvino, os Puritanos tinham uma alta consideração pela pregação. Como amantes da Palavra de Deus, os Puritanos não estavam contentes meramente em afirmar a infalibilidade, inerrância, e autoridade da Escritura. Eles também liam, estudavam, ouviam, e cantavam a Palavra com deleite, buscando aplicar o poder do Espírito Santo que acompanhava a Palavra. Eles consideravam os 66 livros da Bíblia Sagrada como a biblioteca do Espírito Santo. Para os Puritanos, a Escritura era Deus falando a Seu povo como um pai fala a seus filhos. Na pregação, Deus entrega Sua Palavra como verdade e poder. Como verdade, a Bíblia é confiável no tempo e eternidade. Como poder, ela é o instrumento de transformação usado pelo Espírito de Deus para renovar nossas mentes.

Como protestantes evangélicos do século XXI, devemos combinar nossa defesa da inerrância bíblica com uma demonstração positiva do poder transformador da Palavra de Deus. Este poder deve ser manifesto em nossas vidas, nosso lares, nossas igrejas, e nossas comunidades. Devemos mostrar que, embora outros livros possam nos informar ou mesmo reformar, somente um Livro pode nos transformar, conformando-nos à imagem de Cristo. Somente como “cartas vivas de Cristo” (2 Co. 3:3) podemos esperar vencer a batalha pela Bíblia em nossos dias. Se gastarmos muito de nossa energia em conhecer e viver as Escrituras, quantos mais não poderão se prostrar perante seu poder transformador?

O movimento Puritano nos ensina muito sobre cultivar o poder transformador da Palavra. Pregadores puritanos expuseram claramente como a Palavra efetua transformação pessoal. Eles ofereceram direções práticas sobre como ler e ouvir a Palavra de Deus. [6] O Catecismo Maior de Westminster resume estes conselhos Puritanos na Questão 160: “Exige-se dos que ouvem a pregação da Palavra que a acolham com perseverança, preparação e oração; que comprovem o que ouvem com as Escrituras; que recebam a verdade com fé, amor, mansidão e ânimo pronto, como a Palavra de Deus; que nela meditem e sobre ela conversem; que a escondam no coração e manifestem os seus frutos em suas vidas.” [7]

Juntamente com Lucas 8:18, “Vede, pois, como ouvis,” irei oferecer alguns ensinos Puritanos juntamente com minhas próprias observações sobre como ouvir a Palavra de Deus, dividindo o assunto em três partes: como se preparar para a pregação da Palavra, como receber a pregação da Palavra, e como praticar a Palavra pregada. Ao estudar cada um desses pontos, devemos nos perguntar: Eu realmente ouço a Palavra de Deus? Eu sou um bom ouvinte do evangelho proclamado, ou sou apenas um ouvinte descuidado ou crítico? Eu faço com que cada sermão, como disse Charles Simeon, “aumente ou nossa salvação ou nossa condenação”? [8] Eu estou ensinando meus filhos a serem bons ouvintes?

[1] – Leroy Nixon, John Calvin, Expository Preacher (Grand Rapids: Eerdmans, 1950), 65.

[2] – John Calvin, Institutes of the Christian Religion, Ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles (Philadelphia: Westminster Press, 1960), 2.24.12.

[3] – John Calvin, Tracts and Treatises, tans.. Henry Beveridge (Grand Rapids: Eerdmans, 1958), 1:173.

[4] – John Calvin, Commentary on the Synoptic Gospels (Edinburgh: Calvin Translation Society, 1851), 3:129.

[5] – John Calvin, Commentary on Ezekiel, 1:61.

[6] – Samuel Annesley, “How May We Give Christ a Satisfying Account [of] Why we Attend upon the Ministry of the Word?,” in Puritan Sermons 1659-1689, Being Morning Exercises at Cripplegate (Wheaton, Ill.: Richard Owen Roberts, 1981), 4:173-198; David Clarkson, “Hearing the Word”, The Works of David Clarkson (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1988), 1:428-446; Thomas Manton, “The Life of Faith in Hearing the Word,” The Complete Works of Thomas Manton (London: James Nisbet, 1873), 15:154-74; Jonathan Edwards, “Profitable Hearers of the Word,” The Works of Jonathan Edwards: Sermons and Discourses 1723-1729, ed. Kenneth P. Minkema (New Haven: Yale, 1997), 14:243-77; Thomas Senior, “How We May Hear the Word with Profit,” in Puritan Sermons, 2:47-57; Thomas Watson on hearing the Word effectually, A Body of Divinity (Grand Rapids; Sovereign Grace Publishers, 1972), 377-80; três pequenas obras de Thomas Boston, The Complete Works of the Late Rev. Thomas Boston (Wheaton, ill.: Richard Owen Roberts, 1980). 2:427-454; Thomas Shepard’s Of Ineffectual Hearing the Word, The Works of Thomas Shepard (Ligonier, Penn,: Soli Deo Gloria, 1992), 3:363-84.

Há muitas fontes do século XIX na tradição puritana: uma carta de John Newton intitulada “Hearing Sermons,” The Works of John Newton (Edinburgh: Banner of Thuth Trust, 1985), 1:218-25; um ensaio de John Elias intitulado “On hearing the Gospel,” John Elias: Life, Letters and Essays (Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1973), 356-360; e o mais profundo e útil tratamento do assunto, Edward Bickesteth, The Christian Hearer (London: Sceleys, 1853).

[7] – Westminster Confession of Faith (Glasgow: Free Presbyterian Publications, 1997), 253. [Catecismo Maior de Westminster comentado, J.G. Vos. Ed. Os Puritanos, São Paulo: 2007. p. 516. Tradução: Marcos Vasconcelos].

[8] – Charles Simeon, Let Wisdom Judge: University Addresses and Sermon Outlines (nottingham: Inter-Varsity Fellosship, 1959), 19.

Tradução: Márcio Santana Sobrinho

Fonte: The Family at Church. Cap.1.

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